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Emma Anderson, Ed Motta, Laibach. (Créditos: Divulgação, Jorge Bispo, Divulgação)

As Melhores Escavações Sonoras de 2023

Da vanguarda à nostalgia; do jazz ao black metal

Por Redação

Essa é a época do ano em que os veículos especializados em música publicam seus melhores do ano. No caso do Class Of Sounds não foi diferente, especialmente pela dificuldade de selecionar apenas 30 lançamentos. Alguns são óbvios. Outros, nem tanto.

Independente das escolhas, o que mais vale aqui é manter a bandeira das indicações sonoras fincada. E em 2023, o que menos faltou foram discos para ouvir.

Confira a seguir:



01. Ed Motta – Behind the Tea Chronicles

Elegância, feeling e precisão marcam o 14º álbum de estúdio do renomado cantor, compositor e produtor musical brasileiro Ed Motta. Nada que esses adjetivos já não tenham figurado trabalhos anteriores, porém, Behind the Tea Chronicles traz tudo isso de forma diversa, com canções diretamente influenciadas por filmes e séries para lá de antigos. Entre climas e nuances, ele vai de jazz, west coast, blues, folk e o que for possível para (inconscientemente) subir o pódio da classe de 2023. Primoroso.


02. Emma Anderson – Pearlies

Uma das mentes criativas da banda shoegazer britânica Lush reapareceu com um trabalho inteiramente solo. Cortesia da força dada pelo amigo Robin Guthrie (Cocteau Twins) e de Audrey Riley. O que poderia ser um novo disco do icônico grupo acabou ganhando vida própria (com mais composições) em um registro inspiradíssimo, calcado especialmente no dreampop e no ethereal wave. Pearlies é Emma Anderson simplesmente no seu melhor. Que estreia.


03. Laibach – Sketches of the Red Districts

O coletivo esloveno Laibach contabiliza mais de 40 anos como uma das forças dos sons industriais. Nem por isso a zona deve ser de conforto. Pelo contrário: eles seguem provocadores como nunca, mas sobretudo sombrios. Como neste registro intrigante, feito com um olhar no seu passado distante e outro na ambiência dos trabalhos recentes. Impossível não sair perturbado após a primeira audição.


04. Vanishing Twin – Afternoon X

Existem grupos experimentalistas e existe o Vanishing Twin. Formação gerada em Londres, mas com RG também emitido na Itália e no Japão. Essa trupe simplesmente corre do convencional por meio de correntes artísticas como dadaísmo e surrealismo, enquanto no âmbito musical, muita psicodelia e pós-punk. Afternoon X vai pela via das deliciosas esquisitices, das colagens, dos efeitos e de pinturas aparentemente aleatórias. No entanto, está tudo no devido lugar. Aqui, no caso, em quarto.


05. Body Of Light – Bitter Reflection

A nostalgia é uma constante nas atividades sônicas envolvendo a música eletrônica. Entretanto, alguns nomes se saíram melhor ao abordar a década mais legal de todos os tempos. De 80, claro. Acontece que o duo estadunidense Body of Light, dos irmãos Alex e Andrew Jarson, flertaram com a frente mais sofisticada do pop. Como resultado, onze músicas absurdamente envolventes, de botar no mesmo balaio gente do quilate de Tears for Fears, Johnny Hates Jazz, Spandau Ballet e Depeche Mode. Portanto, mais que um disco, Bitter Reflection é obrigatório.


06. Jasual Cazz – Memory Guard

Molecada nervosa essa do Jasual Cazz. Trio de Lyon radicado na cena parisiense que leva consigo a bandeira do jazz fusion. O que isso significa? Que às vezes, Memory Guard ataca de smooth, outras de funk, mas também de eletrônico; sempre com extrema coesão e feeling. Tanto na calma quanto na “tempestade”. Em suma: jovens, promissores, fantásticos.


07. Lost Lenore – Incólumes

Esse jovem duo de darkwave/synthpop/italo disco de Boa Vista/RR e Manaus/AM chegou sem o menor compromisso em 2020, e isso acabou se refletindo nas músicas presentes em Incólumes, editado pela Systemica Records. Todas as canções do debut do Lost Lenore são em português e trazem o mesmo frescor de um ato recém-sugido na classe de 1986, pronto para entrar nas paradas radiofônicas. Só que em 2023. Sabe aquele disco para manter no replay? Então.


08. Jenni Sex – Healing Kiss

O trio paulistano Jenni Sex sempre navegou naquela zona escura entre o pós-punk e o rock gótico – como se houvesse uma grande diferença – de um jeito consistente, único. Embora Healing Kiss seja apenas seu segundo trabalho, ele soa como se fosse a cereja do bolo desse histórico recente. Foi um registro que demorou para sair, mas valeu a pena: difícil não adentrar na atmosfera do álbum, que por consequência te impede de apontar um destaque.


09. Frankie Rose – Love As Projection

A cantora, guitarrista e compositora americana Frankie Rose é um dos nomes mais ativos da esfera alternativa. Seu currículo passa por várias formações; da neopsicodelia ao garage rock. No entanto, é na carreira solo que está o ouro. Love as Projection figura o álbum de número 6 da carreira e, de longe, o que mergulha mais fundo no universo oitentista. Basicamente, leia-se: new wave estilo filme colegial com muitos sintetizadores. Mas também altas viagens etéreas dotadas de muita melodia. Melhor momento discográfico e um dos melhores do ano, certamente.


10. King Gizzard & The Lizard Wizard – PetroDragonic Apocalypse; or, Dawn of Eternal Night An Annihilation of Planet Earth and the Beginning of Merciless Damnation

O que você fez pelo metal em 2023? A brigada Aussie King Gizzard & The Lizard Wizard fez nada menos que PetroDragonic Apocalypse… Qualquer semelhança com Saxon, Iron Maiden, Motörhead e Black Sabbath nem de longe é uma mera coincidência. E pra quem já fez de quase tudo – jazz, rock psicodélico, progressivo, space, synthpop, garage rock, dreampop… –, um disco voltado para a esfera mais pesada da música não causa surpresa. Ainda assim, trata-se de um álbum enérgico e divertidíssimo, tendo em vista o humor desse bando de “malucos com a cabeça no lugar” de Melbourne. Petardo.


11. …and Oceans – As in Gardens, so in Tombs

Após lançar o álbum mais rápido e furioso da carreira (“Cosmic World Mother”) no pandêmico ano de 2020, os finlandeses do …and Oceans retornaram com um trabalho nos mesmos moldes, mas com um ‘plus’: melodia. Cortesia das sinfonias marítimas de caráter além-vida, e o tradicional mote gélido que somente as bandas nórdicas conseguem proporcionar. As in Gardens, so in Tombs é odiosamente cristalino, mas sobretudo viajante como nunca na discografia.


12. This Eternal Decay – ABS​Ø​LUTI​Ø​N

Dois mil e vinte e três foi muito bem servido de darkwave. Destaque para ABS​Ø​LUTI​Ø​N, álbum da banda italiana This Eternal Decay, que até então apostava muito mais no industrial. Neste registro, no entanto, floresceu a veia gothic rock dos caras, reverenciando consciente e inconscientemente nomes como Bauhaus, Joy Division, The Sisters of Mercy, Rosetta Stone e demais correligionários. O que saiu disso não poderia ter sido mais sombrio, encorpado e dançante. Quase que do início ao fim.


13. Creep Show – Yawning Abyss

Supergrupos geralmente vêm cercados de expectativa. Outros, porém, chegam com a certeza de que trarão discos incendiários, como o Creep Show. Pudera: Stephen Mallinder, voz do lendário ato eletrônico/experimental Cabaret Voltaire, integra a formação com John Grant (The Czars) e Benge (Tennis, Fader, Stendec) num registro regado a irreverência, synth funk e electro-industrial.


14. Bel Epoq – Adagio for Dance

Eis uma das grandes surpresas voltadas paras as pistas de dança – escuras ou não. Bel Epoq vem da sisuda e eletrônica Alemanha, e estreou com o explosivo Adagio for Dance; uma simbiose entre o new wave/synthpop cinematográfico (‘Flashdance’ manda um abraço) e o darkwave. É o tipo de álbum que se lançado em 1985, já teria nascido clássico.


15. Magna Zero – The Great Nothing

Quando o psych rock parecia ter cumprido seu papel, surge a banda americana Magna Zero para dizer: “calma aí, tem a gente”. Tudo bem que eles não se propõem a inventar a roda, mas souberam pegar o mais marcante de nomes como Queens of the Stone Age, Tool, Radiohead, Maserati e Gods is an Astronaut. Desembocou em The Great Nothing. Ou, no grande tudo; sujo, pesado, viajante.


16. Escarlatina Obsessiva – Goth From Hell

Imagine um projeto gótico assinado por Bauhaus e Frank Zappa. Não, é pouco. Escarlatina Obsessiva começou pela via tradicional do estilo, mas já há bons anos vem incorporando novas sonoridades aos seus trabalhos. Sem limites: jazz, blues, música brasileira, no wave. O céu escuro é o limite para Karolina Escarlatina e Zef. A progressão natural foi Goth from Hell, uma amálgama de tudo isso e mais um pouco; com luzes frias e dinamismo.


17. All My Thorns – Further From The Distant Sun

Olha o Fields of the Nephilim fazendo escola sem parar. A bola da vez é o All My Thorns, que inclusive atualmente conta com o John “Capachino” Carter (ex-FOTN) no line-up. A banda é uma cria do vocalista Drew Freeman, que já tentava fazer algo do tipo nos anos 90. No entanto, foi nessa safra que surgiu Further From The Distant Sun; um prato cheio para os órfãos do que Carl McCoy e cia fizeram especialmente de Elizium (1990) para cá. Se bem que 2023 carecia de um registro do naipe. E felizmente veio.


18. Fredag den 13:e – Mänskliga Gränstillstånd

Crust daquele jeito: sueco. Se pensou em Avskum, Totalitär, Wolfbrigade e Skitsystem, você acertou em cheio.  É o Fredag den 13:e honrando os grandes nomes do estilo com o álbum Mänskliga Gränstillstånd. Disparado o ponto alto dessa jornada enfurecida, mas também do gênero nessa leva.


19. Depeche Mode – Memento Mori

Falar em Depeche Mode desperta curiosidade mesmo em quem nem é tão fã. E agora ainda mais, já que o que era um trio, se reduziu a duo: Dave Gahan e Martin Gore pela primeira vez sem seu amigo e companheiro Andrew Fletcher, falecido em 26 de maio de 2022, aos 60 anos. E segundo Gore, foi tudo uma coincidência: as composições estavam em construção. De todo modo, Memento Mori (“lembre-se de que você irá morrer”) é um título mórbido, mas real e traz ainda mais significância após a partida do membro original. Musicalmente, não se ouvia um disco inspirado desde Playing The Angel (2005), e só daí já vale como um dos melhores lançamentos do ano.


20. Shame – Food for Worms

Não é de hoje que o Shame é uma das bandas mais queridas do novo indie. Formada na Londres de 2014, eles contabilizam três álbuns fantásticos, incluindo Food for Worms, lançado em fevereiro. O prisma meio que continua sendo um mix de Bowie e Fugazi, mas entre as atividades reluzentes você encontra até mesmo Motörhead. Diverso, mas coerente.


21. Glazyhaze – Just Fade Away

Sabe-se lá o que anda rolando nas águas italianas, mas a proliferação é de ótimas formações. Como o Glazyhaze. Liderado por Irene Moretuzzo e Lorenzo Dall’ Armellina, a banda bebeu na mesma fonte que saiu Cocteau Twins, Slowdive e Lush, convertendo-se em algo mais melódico, direto e tão cativante quanto no seu álbum debut, Just Fade Away.


22. Bê & os Sadmen – Eu Ainda Estou Vivo

Não apenas vivo, mas presenteando o ano com um belo registro. Atendendo como , o artista mineiro Adriano Bermudes (ex-Drowned Men) convocou um time de veteranos da cena musical de Belo Horizonte para fazer o que sabe melhor: pós-punk. A receita aparentemente simples – Reino Unido encontra Brasília ‘naquela’ década – rendeu Eu Ainda Estou Vivo; um play existencialista, socialmente crítico e triste; como os (seus) Sadmen.


23. Wild Nothing – Hold

Quanto maior o hiato, maior a expectativa quando há o anúncio de um novo álbum. O Wild Nothing, do músico e produtor estadunidense Jack Tatum, tinha a tarefa de superar o bombástico Indigo, de 2018, e com Hold ele chegou perto. No entanto, essa proximidade já gerou ótimas canções de climas distintos, mas todas guiadas sob o prisma da impactante década de 80. Seu alto nível também se deve ao trabalho no estúdio com Geoff Swan, que soube captar o enorme apreço de Tatum por nomes como Peter Gabriel e Kate Bush.



24. Tulus – Fandens Kall

Noruega e black metal em uma mesma frase a gente sabe que não passa de redundância, inclusive quando o vetor é o tradicionalismo. Formado em Oslo e contemporâneo às atividades criminosas – assassinatos e queimas de igrejas – de seus correligionários sônicos, o Tulus tem o básico como essência, como se fosse uma versão mais sórdida de um AC/DC ou Motörhead. Entretanto, essa musicalidade aparentemente limitada é a força motriz de composições sem meio termo: te pegam ou te largam logo no primeiro riff. E é claro que Fandens Kall está entre os (nossos) melhores de 2023 por usar e abusar do elemento rock and roll na música extrema.


25. Andrés Ruiz – Dramacolor

O argentino Andrés Ruiz é cantor, compositor, instrumentista, ator, produtor, artista visual, plástico… e especialista no que saiu de mais palatável após o punk. Em Dramacolor, a vez foi estender suas aptidões ao terreno do synthpop com aquela veia minimalista, e claro, nostálgica. Não deu outra: disco honesto, colorido, viciante. Gol de placa.


26. Doortri – PFAS OFF

Aqui o jazz é livre no sentido real do termo. O mote do trio italiano Doortri é experimentar com os olhos lá na frente. Com isso, seu debut, PFAS OFF, acabou por se revelar uma mostra à cores frias que também passam por pós-punk, industrial, krautrock e até hardcore punk. Na verdade, trata-se do que se pincelou de mais desafiador entre John Coltrane e Tortoise, mas com muita segurança. Aliás, ouvir apenas uma vez é um pecado.


27. Antarctic Wastelands & Human Is Alive – The Eternal Forest

Álbuns voltados para a música ambiente geralmente trazem capas tão lindas quanto o material apresentado. Neste caso, ou melhor, The Eternal Forest é um fechamento entre dois projetos ímpares na arte de desenhar paisagens sonoras: Antarctic Wastelands, baseado em Hong Kong, e Human is Alive, da Georgia. Viagem garantida.


28. Paulo Metello – Saudades, Mem​ó​rias e Sonhos L​ú​cidos

A dor de perder um ente querido é algo que simplesmente não dá para mensurar. É também quando os abismos perdem a dimensão e, qualquer passo em falso, você cai. O músico carioca Paulo Metello perdeu o pai, mas foi mestre em transformar as coisas ruins em Saudades, Memórias e Sonhos Lúcidos, seu novo álbum. Nele, há também o que lhe moldou musicalmente: rock britânico em (quase) todas suas etiquetas – pós-punk, jangle pop, neopsicodelia – convertendo-se naturalmente em um dos discos nacionais mais melancólicos e envolventes dos últimos anos.


29. Rotten Sound – Apocalypse

Título perfeito para um álbum como esse. Como dizem por aí: “In grind we crust”. E como acreditamos, principalmente após o Apocalypse do Rotten Sound. Finlandeses de Vaasa, moldados na mesma forma grindcore do Napalm Death, mas com uma fúria singular. E com temas variando entre o social, a política e a violência – é possível separá-las? Bomba em forma de (anti) música.


30. Animal Trees – Espelho Trincado

Não se engane pela posição que se encontra Espelho Trincado, álbum debut do projeto Animal Trees. Este é exatamente o trabalho que traduz “As Melhores Escavações Sonoras” do Class of Sounds. O papo aqui é post-rock essencialmente instrumental, influenciado pelos pilares do estilo, Mogwai e Explosions in the Sky. Ao mesmo tempo, no entanto, o mentor e multi-instrumentista capixaba Vitor Toledo desenvolve uma cara autoral ao expor ânsias e desenvolver ambiências ao longo de suas dez faixas.





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