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Body of Light – Bitter Reflection

Mergulho do duo norte-americano vai além do pop sofisticado oitentista

Por Luiz Athayde

Os autodenominados Cowboys dos Sintetizadores, Body of Light, estão de volta com o novo álbum via (sempre ela) Dais Records: Bitter Reflection. Desta vez, os irmãos Alex e Andrew Jarson resolveram lançar mão de uma frente mais sofisticada no terreno do pop. Melhor: “A” mais.

Body of Light (Foto: Divulgação/Press)

Seus trabalhos anteriores de uma forma ou de outra sempre flertaram com sonoridades mais sujas, pesadas, ainda que melódicas; techno, industrial, um quê de experimental. Agora, no entanto, chegou a vez de mudar e, cá entre nós, para melhor.

A produção é assinada por Joshua Eustis (Nine Inch Nails, Drab Majesty, Youth Code), e o trabalho de masterização ficou a cargo de Josh Bonati (HEALTH, Wild Nothing, Beach Fossils). Quase um spoiler das músicas.

Mas o que se ouve é, na verdade, um mergulho voraz na nostalgia. Como se eles tivessem sido transportados de algum momento da década de 80 para 2023. Tal como os galeses e correligionários Private World com o seu brilhante álbum, Aleph, de 2020.

Ao menos nos anos 80, todo bom disco começava com uma faixa forte, a fim de pegar o ouvinte logo nos primeiros segundos. E meus amigos e minhas amigas, “Get It Right” cumpre esse papel com maestria. Já por essas bandas você já percebe que não estamos lidando com amadores ao visualizar Michael Cretu dando ênfase ao Hi-Tech/AOR – uma certa constante aqui, diga-se.

Falando nisso… “Strike The Match” bem que poderia ter figurado a trilha do longa To Live And Die In L.A. (Viver e Morrer em Los Angeles) no lugar de Wang Chung. Caso vivessem em 1985, claro. Fantástica. “This Conversation” faz um pequeno avanço no tempo, se relacionando furtivamente… não, explicitamente com Depeche Mode, das classes de 84, 85 e 86.

Quanto a “Fortia”, se trata de uma deliciosa introdução etérea para um dos picos mais altos de toda a discografia desse duo do Arizona. A faixa-título simplesmente eclode em melodia e sofisticação, nos melhores moldes das programações das FMs especializadas, como Antena 1, Alpha e NOVABRASIL. Em outras palavras, conexões fotíssimas com a era final e classuda do new romantic, sob as nuvens do Johnny Hates Jazz.


Outro grande momento radiofônico e cinzento, no melhor dos sentidos, está em “Out Of Season”, com seus synths climáticos e ainda assim charmosos à la Spandau Ballet. A essa altura o ouvinte está tomado pela viagem sônica proporcionada pela dupla. E eis que entra “Never Ever” para endossar essa trip antes de voltar um pouco mais na linha do tempo em “On This Day”.

“Hyena” figura outro interlúdio, aqui se mostrando com uma pegada experimental. Martin Gore inclusive lançou mão inúmeras vezes dessa abordagem, em especial nos b-sides de singles, lá nos anais de seu grupo. “Last Repose” compõe um novo momento cinemático, tipo clima de desfecho de algum filme estilo Sessão da Tarde. Daquela década.

A décima e última música, “Deepcolorlights”, aponta para o espaço em estilo ambient, mas sem destoar ou fugir para um outro contexto. Pelo contrário, esta liga à primeira faixa, como se contassem uma história. Bom, meio que contam; em temas que passam por melancolia, distopia e a guerra na Ucrânia.

Musicalmente, é indiscutivelmente o auge. Bitter Reflection ajuda a trazer de volta o lado, digamos, mais adulto do synth/sophisti-pop por meio de músicas escolhidas a dedo – incluindo a parte técnica. Ou seja, amarradas entre si, mas uma mais empolgante que a outra.

Disco brilhante. Certamente um dos melhores de 198… 2023. Ouça na íntegra pelo Bandcamp, ou abaixo, no Spotify:

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