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Private World – Aleph

Estreia do duo galês não poderia ter vindo em melhor momento

Por Luiz Athayde

As configurações dos sons estilo  “Antena 1” foram revisitadas com sucesso. Bom, como a mesma cobre apenas uma parte do Brasil, traduzo: é uma rede de emissoras de rádio, focada em jazz, pop e suas infinitas variantes; sophisti-pop, new romantic, synthpop, new age e waves afins.

E o que um certo duo de Cardiff, País de Gales tem a ver com isso? Simplesmente tudo. Sob o nome Private World, os músicos Tom Sanders e Harry Jowett chegaram trazendo todo o aparato radiofônico que faltava na eterna onda de bandas influenciadas pelos anos 80.

Sanders e Jowett no fundo do Private World (Divulgação)

Com gênese documentada em 2017, a dupla deu sinais do que viria adiante com o single “House” em 2018, seguido de lançamentos tímidos. Ao menos em comparação ao potencial sônico dos caras. Mas a espera valeu a pena, ao estrearem, via carimbo Dais Records, com o álbum Aleph.  

Como todo bom disco daquela saudosa década, o mesmo mal passa dos 30 minutos; o que nos faz naturalmente querer mais, ou seja, deixar o botão de repeat ligado.

O disquinho já abre com “A Private World”, uma bela intro cinzenta para o entardecer de (mesmo tom, diga-se) da faixa “Blue Spirit”.

“Birdy” é envolta a um clima quase AOR de deixar Marc Jordan de cabelos em pé, enquanto o bem-sucedido single “Hypnagogia” é guiado pelo prisma do mestre Bryan Ferry; como se fosse uma alucinação sonora entre Avalon (disco do Roxy Music de 1983) e Boys and Girls (de seu voo solo de 1985).

“Magic Lens” não foge muito à regra, embora se relacione com qualquer momento discográfico do China Crisis, ainda que soe mais quebrada e tão climática quanto um Presto (sim) do Rush.

Um dos pontos fortes da new wave mais classuda é justamente sua mescla com a soul music, deixando mais aprazível aos ouvidos, mas bem longe de soar descartável. E é justamente essa a pegada da faixa seguinte, “Somethin’ Special”, com todo o seu balanço.

Na sequência, outro single pronto: “Chasm”. Bem direta, é aquela típica música com cara de dial, sem introduções. Os ternos continuam bem arrumados com “Spine” e suas variações rítmicas “ferryanas”, ou o que o Spandau Ballet poderia explorado melhor.

Já caminhando para o desfecho, “Alien Funeral” quase desbanca para o Bête Noire (clássico de Ferry), se o céu galês não estivesse tão carregado. E é nas proximidades de retomar à primeira faixa que chega “Jones to Engel (Pierrot)”, disparada uma das mais radiofônicas da embrionária discografia da banda. Está tudo ali; só ouvir.

É curioso notar como a tecnologia nos permite voltar no tempo, mesmo para uma época não vivenciada por quem ouve. O pessoal do synthwave que o diga, ao fazer isso com maestria em alguns casos. Mas estes galeses foram além ao retomar o clima de requinte da voz do Roxy Music e a pose de Clark Datchler, quando era o frente do Johnny Hates Jazz.

O Private World  conseguiu a proeza de apresentar um álbum tão diligente mesmo nos momentos mais introspectivos, e não apenas pela sua estratégica duração, mas por impedir que a peteca caia sequer um segundo.

Aleph beira ao fantástico, mas é acima de tudo, a vertente da música pop que estava faltando neste belo mar de novidades. Não poderia ter vindo em melhor hora. 10/10.

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