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Jenni Sex – Healing Kiss

Trio paulistano promove uma verdadeira imersão na década de 80 através de músicas sombrias, porém melódicas

Por Luiz Athayde

Demorou o tempo necessário, mas chegou. A banda de rock gótico com ares pós-punk (ou vice-versa), Jenni Sex, registrou sua obra na classe de 2023 e, devo dizer, com os peitos estufados.

Healing Kiss surgiu em meio as sombras oficialmente na última quinta-feira (20), via carimbo Wave Records. É o terceiro registro do trio gerado há 10 anos na cidade de São Paulo, sob liderança do vocalista, guitarrista e tecladista Oliveira Helders. A formação é devidamente completada com Danilo Lima (baixo, efeitos) e Maurício Pasqualle (bateria).

Jenni Sex (Foto: Alexandre Wittboldt)

O sucessor de Songs Through Your Tongue (2018) traz 9 faixas gravadas em sistema analógico, com produção da própria banda em parceria com Márcio Menechini, na engenharia de áudio. Como resultante, um impacto sônico e sensitivo extremamente perceptível do primeiro ao último momento, ao longo de seus 32 minutos.

Na verdade, bem antes, já era possível esboçar uma ideia do que viria. “Treasures” foi apresentado como cartão de visita em 2020, mostrando uma fração do leque de influências regidas pelos anos 80. Como a cena de Liverpool, por exemplo. Ou, uma espécie de A Flock of Seagulls tomado pela paleta de cores cinza da capital paulista.

Mas, por mais que o prisma seja de uma era específica da música dark, o grupo é lúcido o suficiente para saber que está em 2023. E a faixa de abertura, “Welcome Drink”, já revela nas entrelinhas que não se trata de um pastiche nostálgico.

No entanto, é impossível não conectar uma música como “On The Hilltop” a Joy Division e The Sisters of Mercy. Ainda bem. O que seria de muitas bandas, se é que elas existiriam, caso não fossem dois dos pilares surgidos após a explosão do punk rock?

Em “Resistance”, a via é mais dançante – cortesia do groove sensacional de bateria no comando da canção –, mas ao mesmo tempo carregam um teor melancólico e misterioso em sua melodia.

Já os voos rasantes na atmosfera gótica se dão com “Birds”, inclusive com um riff inicial para lá de pegajoso. Aqui o destaque é a interpretação de Helders. Qualquer conexão com os guturais de Carl McCoy (Fields of the Nephilim) de alguma forma se faz presente em uma tentativa – bem sucedida, diga-se – de soar autoral.

Dada a uniformidade do álbum, a essa altura fica difícil mencionar um ponto alto. Bom, caso isso fosse uma obrigação, “Sin Chimes” estaria próxima. É o tipo de faixa que possui uma levada flutuante, geralmente provida por atos da esfera alternativa. Aliás, bela ambiência feita pela combinação de guitarras limpas e o violão.


“You Never Should” apresenta a hipnose característica do estilo; aquela sensação de repetição, como o que o The Cure fez em “All Cats Are Grey” (música do álbum ‘Faith’, de 1981), mas com um formato mais urbano e rebuscado.

É sabido que São Paulo é conhecida por ser a terra da garoa. Quando esfria, a temperatura é tão imperdoável quanto territórios mais ao sul – experiência própria. E numa seleta condizente, a instrumental “Some Winter Days” certamente seria parte integrante da trilha. Embora sirva para qualquer centro urbano com uma aura de desolação.

Anos 80? Sim. Tanto na abordagem temporal quanto sônica de “Aways”, música que encerra o play. O aceno é mais que positivo a Jaz Coleman e o saudoso Adrian Borland, em uma pegada quase tão enérgica quanto o que se ouve, respectivamente, em boa parte da discografia do Killing Joke e da falange pós-punk The Sound.

Nas linhas finais, não vou lançar mão do papo choroso de que é difícil produzir discos no Brasil – e é! –, mesmo com a possibilidade do “meu quarto estúdios”. Me atendo à esfera pós-punk/gótica, estamos diante de um cenário extremamente fértil como nunca se viu no país, e juntamente com isso, vemos de tudo; tanto para o mal quanto para o bem.

Healing Kiss, claro, vai além da segunda menção. É um álbum que uniu ótimas composições, timbres extremamente assertivos e uma produção ímpar, fazendo deste um registro honesto e, ao mesmo tempo, um produto de exportação.

Em suma, Jenni Sex não veio para brincar (de gótico), e por esse mesmo motivo, merece holofotes além-mar. Consistentes desde o início da carreira, agora fica a torcida pela longevidade.

A pré-venda do formato CD se encontra disponível no Bandcamp da Wave Records. Ouça Healing Kiss na íntegra a seguir:

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