Caos é a palavra de ordem no novo álbum de uma das mais notáveis falanges britânicas da safra atual
Por Luiz Athayde
A década de 20 deste futuro incerto mal deu início, e ao que parece, a nova safra do cenário chamado indie está tomando outros rumos; experimentais, tortos, artísticos, caóticos. E, na linha de frente, estão os londrinos do Shame.
Para quem nunca ouviu falar neles, a banda é realmente jovem, da classe de 2016, e conta com um punhado de singles e dois álbuns de estúdio. O primeiro, Songs of Praise, de 2018, traz um agradável shake de post-punk e pop, com composições redondinhas entre andamentos retos, mezzo nervosos e de fácil assimilação.
Já o segundo e mais novo álbum, faz o caminho inverso, obrigando ouvidos mais floridos, de bigode e óculos vintage a pararem para ouvir com a mesma calma que um ritual ao apreciar um vinil 12 polegadas.
Drunk Tank Pink é o nome do registro dos músicos atendidos por Charlie Steen (vocais), Eddie Green (guitarra), Sean Coyle-Smith (guitarra), Josh Finerty (baixo) e Charlie Forbes (bateria), que assinam momentos que vão da new wave nova iorquina a momentos que beiram o noise rock.
Isso sem mencionar as letras, impossíveis não relacioná-las com pirações oriundas do isolamento social. “I can’t see no squares / All I see is circles” (“Não consigo ver nenhum quadrado / Tudo o que vejo são círculos”), como diz a segunda faixa “Nigel Hitter”, com sua pegada Talking Heads. É por aí, só vai.
Ainda mais intricada que a ex-banda de David Byrne, “Born in Luton” mostra a banda de namorico com o jazz logo no primeiro minuto. No entanto, o que se revela é uma peça experimental de mote post-rock e conexões pré-histórias com Slint. Seria uma tendência?
Assertivamente, “Snow Day” aparece bem no meio do disco, graças ao passeio inconsciente (?) que eles fazem em territórios outrora explorados por nomes como Fugazi e Quicksand. A bateria é o grande destaque rítmico, embora seu desfecho à la Modern English seja de estourar os tímpanos mais desavisados.
Qualquer conexão com Idles em “Great Dog” é mera coincidência, já que essa é a faixa mais rápida, suja, curta e até mesmo necessária para quebrar o clima de experimentalismo no decorrer do registro.“Harsh Degrees” é outra que chega com o mesmo nível de potência com seu eco Black Flag; toda torta e para trás, como a essa altura, já daria para perceber.
Mais que um choque na embrionária discografia dos ingleses, Drunk Tank Pink é o álbum perfeito para sair da zona de conforto por rude, difícil de entender de relance e desafiador. Porém, é o Shame sem medo, ou melhor, vergonha de nada. Afinal, isso é o que eles menos têm na cara. Ainda bem.
Ouça o disco completo no Spotify.
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