Italianos mostram como se faz um som oitentista com a cara dos dias atuais
Por Luiz Athayde
Agora vai. Ou melhor, saiu. A banda italiana Zephiro acabou de lançar seu novíssimo álbum de estúdio, Baikonur.
Chancelado pelo kuTso Noise Home, o registro possui 9 faixas, sendo boa parte delas, já conhecidas do público, tendo em vista que as mesmas foram divulgadas ao longo dos últimos 5 anos, inclusive através de videoclipes.
No núcleo criativo, o vocalista e baixista Claudio Desideri, o guitarrista Claudio Todesco e o baterista Leonardo Sentinelli; time de primeira oriundo de Roma, que já carrega um disco cheio e um EP. Além de cadeira cativa no circuito europeu, mas principalmente no Japão.
Não muito diferente das inúmeras formações new wave/pós-punk, eles se orientam por grandes nomes dos anos 80, mas este novo trabalho realmente vai além. Bom, na verdade se trata do aqui e o agora, inclusive liricamente, por abordar temas atemporais; do ciclo da vida (a nada menos que fantástica, também no âmbito videoclíptico, “Crisalide”) à crítica ao uso de animais em pesquisas científicas (a Cureana “Cosmorandagio”).
Mas a abertura se dá com “Amelia”, uma espécie de aperitivo do que vem a seguir, mas também o cartão de visitas ideal para mostrar o teor cristalino do trabalho de produção, bem como mixagem e masterização, devidamente assinados por Fabrizio Simoncioni, com o auxílio de Marco Romanelli.
“Kublai Khan” pisa levemente no freio ao trazer uma atmosfera mais próxima do indie rock ‘quase’ dreampop, mas sobretudo por se relacionar com o pop rock latino de nomes como Soda Stereo. Cortesia não necessariamente da intenção, mas da proximidade dos idiomas nativos de ambos os grupos.
Já “Berlinauta” é um mergulho na capital alemã através do longa de Uli Edel, Christiane F. – Wir Kinder vom Bahnhof Zoo (Eu, Christiane F. – 13 Anos, Drogada e Prostituída), baseado no livro homônimo.
Ao ouvir “La Colpa”, a sensação de associar novamente ao rock latino-americano é praticamente inevitável, mas isso não quer dizer que se trata de uma cópia. Muito pelo contrário, se há uma referência aqui – de várias, diga-se – o A Flock Of Seagulls é uma das boas, mas com muito mais energia e alma. E ainda nessa pegada, “Se Scavo Più a Fondo” se mostra com facilidade como uma das músicas mais belas da breve discografia dos italianos; bom refrão e clima sugestivo para transmissões radiofônicas.
O rock gótico, ainda que de teor pop, chega através de “Fino alla Fine”, outra grande faixa do álbum. E a cereja do bolo, “Di Nostalgia”, ficou por conta da participação mais que especial do cantor italiano Miro Sassolini, conhecido por trabalhos no grupo post-punk/alternativo, Diaframma, e o televisivo e eletrônico S.M.S.; cadenciada, com cara de créditos finais de filme, mas não menos emocionante. Ainda há algo shoegazer no ar, sabe como é, nuances.
Na mitologia grega, Zéfiro é um titã filho de Eos e Astreu, mas principalmente, um dos quatro ventos ao lado dos seus irmãos Bóreas, Notus e Eurus. Só que, diferente deles, Zéfiro se caracterizava como uma brisa leve, graças à sua paixão por Clóris. De certa forma, Baikonur se encaixa nesse contexto; por conter melodias envolventes e se enveredar por caminhos mais suaves. E, ao mesmo tempo, apresentar flashes do passado do personagem como um vento violento que provocava naufrágios.
Em suma, o novo trabalho dos romanos merece toda atenção possível ao primar pela qualidade dentro de composições nada pomposas, sem a necessidade de desafiar o ouvinte, exceto pelos temas. Molto bella!
Baikonur já se encontra disponível nos formatos digital e CD no Bandcamp. Ouça abaixo, no Spotify.
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