Achado industrial escavado nos escombros de alguma fábrica desativada de Helsinque
Por Luiz Athayde
Poucas vezes vi um efeito cascata originar tantas bandas excelentes. De um modo geral, quando um grupo ou artista aparece com uma ideia original (ou algo próximo disso), surgem uma, duas, três levas de nomes que se mesclam entre a tentativa de achar seu próprio caminho com o passar dos lançamentos, e os que pegam uma máquina de xerox e seguem felizes com sua proposta.
E novamente, da cena em constante degelo, Helsinque, veio o trio industrial que não se enquadrou necessariamente em nenhuma das situações citadas: The Sin:Decay.
No desfecho da década de 90, o chamado ‘metal extremo’ se encontrava no limiar da zona compreendida entre os territórios da música pop e gótica.
Bandas como Tiamat, Moonspell, Anathema e Paradise Lost sofreram mudanças tão drásticas em determinados momentos de suas respectivas discografias, que rendeu matéria com um quê de humor e indicação no Class of Sounds.
No entanto, duas em especial, se projetaram praticamente ao mainstream algumas vezes: Deathstars e The Kovenant (outrora conhecido como Covenant).
A primeira é sueca, criada propositalmente para abalar as estruturas metálicas com um mix de sleaze glam e rock industrial. Já a segunda, norueguesa. Oriunda da conhecida cena Black Metal, praticante de um metal industrial bem singular.
Entretanto, ambas possuem um denominador comum vindo da Alemanha. Esse sim chegou longe, figurando até trilha em filme hollywoodiano. Pensou Rammstein? Pois é. Aí está a origem do “efeito cascata” que contribuiu para a formação do trio finlandês de apenas um único registro, o EP Rehabilitation, editado em 2007 pelo obscuro carimbo estoniano Nailboard Records.
Xind (vocais e programações), Mod (baixo, guitarras) e Kmn (bateria) são os músicos que assinam este elo perdido entre os suecos e os noruegueses, organizado em seis faixas. Se fosse apenas uma mera cópia, já seria um petardo, dada a inspiração do trio de visual entre Darkthrone e London After Midnight.
“We Are All Slaves” e “Deathlike Addiction” são uma simulação quântica que envolve To/Die/For e o álbum Animatronic (1999), primeiro dos ex-Covenant. Na mesma proporção está “Cold Dead Skin” em seu potencial para pegar desavisados que acham se tratar de uma faixa de Terminal Bliss (álbum do Deathstars de 2006).
Qualquer conexão com Ministry e Fear Factory pode não ser uma simples coincidência. Mas, ainda que seja, a sonoridade passa longe de uma pegada norte-americana.
A música que mais se aproxima de uma balada é “Give It Away”. Todavia, ela deixa tempo para o ouvinte adentrar na atmosfera, já que o encerramento se dá com a pseudo-Neubauten “C7618K76”; Industrial processado na mesma fábrica que os compatriotas Slave’s Mask.
Mesmo se tratando de um EP, a banda conseguiu extrair o melhor do que já estava rolando por aí – no subterrâneo e na superfície. Isso em pouco menos de 30 minutos, sem a menor sombra de preocupação ou compromisso.
Rehabilitation é uma pequena peça (mega) rara com peso, melodias gélidas e aquele ar de futuro bem distante (nem tanto, na verdade), com poucos humanos sobreviventes de uma guerra movida por uma pandemia viral. É. Você precisa ouvir… na íntegra, a seguir: