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Johan Edlund (Tiamat)

Metal? Conheça 5 bandas que já viraram a casaca

Os anos 1990 e meados de 2000 fizeram muito bem à algumas bandas, mas nem tanto ao público

Por Luiz Athayde

Mudanças no som e adição de novas influências nunca foi, assim, uma novidade na esfera musical guiada por guitarras, certo? Nem mesmo quando envolve nomes do fechado cenário metálico. Especialmente nos anos 1990, algumas bandas arriscaram sutilmente em seus lançamentos de singles e EPs; materiais de menor escala de procura entre colecionadores de música pesada. Mas outras resolveram radicalizar, sem medo (ou, nem tanto) das reações de seu público.

A fim de revelar alguns “podres”, fizemos uma seleta de nomes que vieram do meio mais extremo do metal (black, death e principalmente, doom) e mudaram quase ou completamente sua sonoridade naquela década, e também em meados dos anos 2000 – período onde ainda haviam muitas novidades, boas e ruins, dependendo do grau de radicalismo do metaleiro da época –,  seja pelo cansaço da mesmice deste subgênero do rock ou simplesmente pela vontade de mudar de ares. Vale lembrar que por um bom tempo a música eletrônica e o industrial teve cadeira cativa no status quo musical, permitindo alguns artistas a alcançarem a superfície, embora não seja o caso destes abaixo. Então, talvez, nem tudo aqui será algo surpreendente, mas vamos lá.





TIAMAT

Tiamat no começo dos anos 90 (Johan Edlund é o segundo da esquerda para a direita)

Banda sueca originada das cinzas do Treblinka. 10 discos na praça. Capitaneado pelo vocalista e guitarrista Johan Edlund, seus 3 primeiros álbuns seguem a vigente cartilha do Death/Doom; guitarras arrastadas, vocais urrados e andamentos de dar sono até para quem está morto, mas Clouds, lançado em 1992 é clássico. “The Sleeping Beaty” ainda é um dos melhores bate-cabeça da banda, de longe.

Sem mencionar sua bela fase de transição, onde a banda começava a flertar com a lisergia do Pink Floyd, no álbum Wildhoney, de 1994. E é aí que a coisa pega. O que veio depois, ao menos até meados de 2006, foi só alegria (ou tristeza para os fãs antigos); inicia-se uma série de lançamentos voltados para o Gothic Rock, alcançando seu ápice em 2002 com Judas Christ.

Tiamat em novo look nos anos 2000

O single “Vote for Love” rendeu video e consolidou os suecos como um dos grandes nomes que viraram a folha para o lado The Sisters of Mercy da força.

Em um recente lampejo metaleiro, Edlund reativou a banda para tocar somente material antigo, focando nos álbuns Clouds e Wildhoney. Se deseja conhecer Tiamat por essas bandas, tente os anos 2000 do grupo. Ouça Judas Christ no Spotify.

ANATHEMA

Anathema em 1992

Rapaziada inglesa de Liverpool. Banda formada em meados de 1990 como Pagan Angel. Faz, ou melhor, fez parte da santíssima trindade do doom juntamente com My Dying Bride e Paradise Lost (vai vendo…). A única constante são os irmãos Cavanagh (Danny e Vincent; guitarra e guitarra/vocais). Soltaram umas demos, uns splits e alguns EPs ainda na fase podre. Quando ainda contavam com o vocalista Darren White, vieram para o Brasil, em 1994, ainda estavam sob turnê do álbum de estreia Serenades  (1993), um verdadeiro sucesso no subterrâneo. Mas foi com o EP Pentecost III que ganharam a MTV através da música “Mine Is Yours”.

Já sem White, migraram para a rota de transição em 1996 com o álbum Eternity, virando a folha definitivamente em Alternative 4, de 1998, adicionando sem medo influências que vão de Gilmour a Radiohead, de Coldplay a Tori Amos, permanecendo até os dias de hoje.

Não que seja o topo dessa fase, mas certamente uma das mais inspiradas, We’re Here Because Here saiu em 2010, e àquela altura, o nome Anathema já se encontrava anos luz dos coturnos surrados e das camisas desbotadas.

Anathema ainda sem a vocalista Lee Douglas, uma dominante no grupo

A música “Dreaming Light” demonstra bem o que é o Anathema há muitos anos.

Ouça We’re Here Because Here no Spotify:






THE KOVENANT (EX-COVENANT)

Blackheart e Nagash: Covenant

Noruega, terra do Black Metal. Na efervescente cena negra local, vários grupos surgidos eram compostos por músicos (e aspirantes a tal) que tocavam em pelo menos outras duas bandas, e no meio desse caldeirão estava o Covenant, então projeto de Stian Arnesen, mais conhecido pelo pseudônimo Nagash. Juntamente com Amund Svensson ou, Blackheart lança em 1997 o sujíssimo In Times Before The Light, e na sequência soltam Nexus Polaris, rendendo aclamadas críticas e indicação ao Grammy norueguês. Era o black metal – de assassinatos, queima de igrejas e tretas afins, inclusive comicamente documentado no filme Lords of Chaos – atingindo o mainstream.

Por sinal, era o prelúdio para uma mudança mais drástica, pegando muita gente de surpresa. Em 1999 são obrigados a trocarem o nome por causa do grupo sueco que, além da alcunha, há anos se encontrava ativo na cena EBM/Future Pop europeia. Como The Kovenant lançam um dos discos mais originais da classe de 1999, Animatronic; uma mescla inspirada por nomes como Rammstein, Marilyn Manson, Depeche Mode e Nine Inch Nails, causando repulsa na comunidade metálica, tocando apenas para aqueles com uma mente mais, digamos, aberta para novas sonoridades.

Psy Coma, Lex Icon e von Blomberg: The Kovenant

A essa altura, Nagash era Lex Icon, Blackheart atendia como Psy Coma e Hellhammer, baterista do Mayhem (e mais uma infinidade de bandas, diga-se), assinava com o próprio sobrenome von Blomberg.

Antes de entrarem em um longo hiato, lançam em 2003 o álbum SETI, ainda mais eletrônico e experimental que o anterior, e a versão remixada de In Times The Before The Light, contando arranjos industriais.

Ouça Animatronic no Spotify:




CELESTIAL SEASON

Celestial Season, 1993

Dos Países Baixos vem, talvez, o caso menos radical. Formado em Nijmegen na classe de 1991, as mudanças foram bem mais sutis se compararmos com a banda dos irmãos Cavanagh, mas, ainda assim, significativas. Inicialmente contando com o vocalista Stefan Ruiters, o baixista Lucas van Slegtenhorst, os guitarristas Robert Ruiters e Jeroen Haverkamp mais o batera Jason Köhnen, soltam Forever Scarlet Passion, até hoje um dos mais obscuros discos do gênero; nem os violinos de Edith Mathot impediu o álbum de fazer parte da galeria de perdidos no tempo – curiosamente este mesmo formato faria muito sucesso na Escandinávia poucos anos depois.

A faixa “Solar Child”, do segundo álbum Solar Lovers (1995) já esboçava o que viria a seguir: Stoner Rock diretamente influenciado por Palm Desert, Califórnia. Foi quando Cyril Crutz assumiu os vocais. A partir daí só deu Kyuss. Em alguns momentos, na cara de pau mesmo, quase plágio.

Celestial Season com o vocalista Cyril Crutz, lá no fundão

O que era uma banda um tanto à frente do tempo com seu Doom de modestas passagens de violinos e vocais femininos, se transformou em uma cópia desenfreada da ex-banda de Josh Homme (Queens of the Stone Age).

Aliás, nada que deixe de empolgar, mas foi justamente isso que enterrou a banda até ressurgirem, em 2011 com o single “Decamerone”, uma regravação da faixa de Solar Lovers, já contando com o ex-Orphanage George Oosthoek nos vocais, e advinha? Nenhum lançamento desde então.

Ouça Chrome no Spotify:




PYOGENESIS

Pyogenesis em 1992

Por fim, o caso mais extremo, para não dizer bizarro: Pyogenesis. Vários discos, inúmeros flertes musicais e uma constante desde 1991: Flo Schwarz. Das falanges mais irregulares da história da música e que também não vingou com nada. Mas deixou alguns discos bem divertidos. Claro que não me refiro ao seu começo Death Metal de orientação Doom de Rise of the Unholy  e Ignis Creatio (EPs lançados em 1992). Naquele tempos a banda tentava um lugar ao sol dentre tantas bandas que surgiam.

As sementes da mudança vieram em 1994 com o esquisito Sweet X-Rated Nothings, onde nota-se a falta de direcionamento da em meio a uma ilusória fase de transição que teria continuidade em Twinaleblood, de 1995. Já sem os vocais guturais de Tim Eiermann (agora ele tenta cantar), a banda arrisca umas músicas influenciadas por punk rock/hardcore melódico entre o Doom de dominância pop. Não entendeu? Só ouvindo mesmo, e olhe lá…

Para piorar, no melhor dos sentidos, mergulham na música eletrônica em faixas aleatórias do disco seguinte Unpop (1997), como “Love Nation Sugarhead” e a viajante “Sehnsucht”, anos luz do Death Metal de outrora. Mas o real chute no balde foi com Mono… of Will It Ever Be the Way It Used to Be (1998) e She Makes Me Wish I Had a Gun (2002), álbuns com faixas de fazer o Blink 182 parecer uma banda séria.  

Nem preciso dizer que depois disso tudo a banda se separou. Voltaram em 2015 atacando de Gothic Metal (?) em A Century in the Curse of Time e A Kingdom of Disappear, de 2017. Ainda fazem shows com essa nova roupagem, mantendo um público louco, mas fiel ao que fizeram ao longo da carreira. Bem que mereciam uma matéria à parte devido ao seu grau de esquizofrenia.

Ouça She Makes Me Wish I Had a Gun no Spotify:

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