Duo adentrou na música industrial muito antes da onda assolar a Europa
Por Luiz Athayde
Saindo da calmaria alemã do My Sleeping Karma (leia aqui) para a realidade lá fora. Com música, claro; Diabolos Rising.
Em 1994 o multi-instrumentista grego George Zacharopoulos, atendendo principalmente como Magus Wampyr Daoloth já colecionava um punhado de bandas em seu currículo predominantemente metálico, sendo as mais importantes, Rotting Christ, Thou Art Lord e Necromantia, até hoje ostentando status cult dentro do subterrâneo extremo.
Já o finlandês Mika Luttinen chegava, para muitos, no seu melhor momento à frente do Impaled Nazarene, com o mega clássico Suomi Finland Perkele.
Nas camadas mais próximas do mainstream, o rock industrial tomava cada vez mais espaço, especialmente com nomes, como Ministry e KMFDM.
Foi o ‘clic’ perfeiro para ambos juntarem forças para desbravar uma nova via no metal extremo. Sob chancela do carimbo francês Osmose Productions, o duo fino-helênico registrou sua estreia em 7 faixas, intitulado simplesmente como 666.
Mesmo datando da classe de 1994, músicas, como “Genocide – I Am God” e “Give Me Blood or Give Me Death” serão prováveis trilhas do figuraça Al Jourgensen quando o mesmo for para o inferno – se é que já não estamos.
Mas “Vinnum Sabbati” e “Sorcery Scientia Maxima” trazem um clima na melhor pegada cancerígena* dos italianos do Limbo, em um mix tenebroso de darkwave e black metal, adiantando anos uma sonoridade que nunca iria “colar” em nenhum dos dois mundos.
Aliás, se até aqui o avant-garde movido pelos flertes góticos iam bem, a faixa título configura o maior desperdício da história da música. 6:06 de nada, ou uma fracassada tentativa nietzschiana de manter tal singularidade com esse silêncio.
Não bastasse isso, o desfecho se dá com o clima de improvisação de “Χ – Ξ – ΣΤ’”, bem como se tivesse compondo na hora. Há momentos em que as batidas soam fora de compasso – e estão! –, mas, por incrível que pareça, é um dos atrativos do disco.
Leve em conta que mesmo na Europa o Rammstein não passava nem perto de se tornar conhecido como na segunda metade da década de 90. Então, trate de jogar os alemães fora, caso tenha sido o primeiro nome a surgir na mente.
Por outro lado, criar uma música à frente de seu tempo pode trazer muito mais desvantagens, já que o universo sólido – ou seria uma espécie de sacramento? – do heavy metal é difícil de quebrar.
De qualquer maneira, a veia extrema está ali; como se o KMFDM estivesse virado no ódio e a cocaína do Ministry aditivada na escala mil.
Adicione aí mais máquinas, caldeirões e fornalhas regadas a vampirismo, satanismo e misantropia; além do sadismo constante na planta da razão nada social Diabolos Rising.
Em suma, pura arte obscura em formato sintético, que não foi necessariamente criado para agradar ao público metálico ou os dark de plantão. Mas dado o contexto histórico, você precisa ouvir 666.
Ainda:
+ Em 1995 o duo lançou o segundo disco, ‘Blood Vampirism & Sadism’, contando com a participação de Cronos, baixista e vocalista do Venom, na faixa “Satanic Propaganda (S.N.T.F. Rising)”, inclusive com direito a videoclipe.
+ Em 1996 Luttinen e Daoloth mudam o nome para Raism, e lançam o EP ‘The Very Best of Pain’, no mesmo ano, e o álbum ‘Aesthetic Terrorism’, em 1997, sofrendo poucas mudanças na sonoridade.
+ Além de Zacharopoulos, Sotiris Vayenas, do Septic Flesh e Dave P., do Necromantia (ambas bandas gregas) assinaram as guitarras de ‘666’.
+ A “pegada cancerígena” é referente ao álbum ‘Our Mary of Cancer’, do projeto EBM/Darkwave Limbo, editado em 1991.
Ouça 666 na íntegra a seguir:
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