Muitas vezes, o lado mais sombrio do black metal não vem do próprio estilo
Por Luiz Athayde
A banda finlandesa de black metal Horna anunciou recentemente sua vinda ao Brasil para março de 2025. Considerada um dos nomes essenciais deste gênero, ela foi formada na cidade de Lappeenranta em 1993; mesmo período onde ocorria as conhecidas polêmicas de grupos correligionários na Noruega, envolvendo extremismo antirreligioso e não muito raro, político.
Seus 12 álbuns e incontáveis splits e EPs apresentam o que há de mais furioso, e até diria sombrio. Mas não, nem tudo que é feito para ser obscuro, vem necessariamente do metal. Caso do Slave Mask, do vocalista Spellgoth (Tuomas Rytkönen), que aqui atende como sg.7.
Juntamente com Kaarna (Juha Jaakko-Antero Kaarna Kettunen), músico também oriundo de formações extremas – eletrônicas ou não –, o mote desde o dia 1 era soar completamente diferente do que vinham fazendo.
Foi quando lançaram Faustian Electronics & Bruise Poetry (2006); registro eletrônico, industrial, mas sobretudo experimental. Bem experimental.
Oito anos depois, no entanto, surge o álbum Soak Kaos, e a máxima: dark até a medula. Ou, “do esoteric synth-pop ao electro-trip-hop/martial industrial”, como se definem. O lado esotérico não chega ser uma surpresa porque se trata de algo praticamente inerente a quem tem raízes no black metal.
Todavia, trazer toda uma carga filosófica para a música resultou em um álbum não exatamente singular, mas um tanto diferente do que se ouve na esfera eletrônica. Obviamente, as referências estão ali e são todas bem-vindas. A faixa-título faz conexão indireta com o hip hop, mas tendo o saudoso Skinny Puppy como fio condutor. Música noturna, porém, tão gélida quanto a Finlândia no inverno.
Também serve para a melancólica “St. Swastika Street”. Nesta, a abordagem industrial se entrelaça com a música erudita, embora sua melodia remeta a Depeche Mode e seus pupilos alemães, De/Vision e Camouflage.
Falando em influências, “Shadow Path Mantra” e “Necropolis City Plan” são dois dos melhores exemplos do Massive Attack fazendo escola. Especialmente após ouvir o clássico Mezzanine, de 1998.
Entretanto, se fosse para recomendar somente uma do disco, hoje seria “Hail The Sun”, justamente pela pegada electro-industrial. Laibach é o nome mais forte, uma vez que todo aquele lance militar entra em festa por esses lados.
Essas conexões se cruzam durante “I – Ghost Currency II – Scars, Stigmas & Stitches”, desfecho do disco. Na verdade, ela tem um quê do lado mais triste do Wumpscut, enquanto se desenvolve para algo digno de trilha sonora sci-fi.
Mas, independente do que citei ao longo deste você precisa ouvir, indico Soak Kaos, primeiro, por ser gerado onde a luz do sol e o bom humor são praticamente inexistentes; e segundo, porque é sempre uma dose extra de dopamina descobrir o que supostos radicais (no que diz respeito a música) andam produzindo fora da sua zona de conforto.
Ainda:
+ Nessa mesma seara, recomendo vivamente Diabolos Rising, projeto dark-electro de Mika Luttinen (Impaled Nazarene) e George Zacharopoulos (Thou Art Lord, ex-Rotting Christ, ex-Necromantia,). Acesse este link.
Ouça na íntegra a seguir.