Mais soltos, banda de Oxford mostrou que seguro mesmo é continuar navegando nas águas do shoegaze que lhe deu norte
Por Luiz Athayde
Dois anos depois de seu triunfante retorno discográfico com Weather Diaries, os shoegazers ingleses do Ride enfim, lançam seu mais novo álbum This Is Not A Safe Place.
É verdade que alguns aperitivos (singles) foram postos à mesa bons meses antes; “Future Love” com sua aura sessentista, e a indietronica mas não menos nostálgica “Repetition”.
Quem presenciou a estreia dos britânicos em solo brasileiro no último mês de abril, na nona edição do Balaclava Fest, em São Paulo, também pôde conferir “Kill Switch”, uma faixa completamente diferente das anteriores.
E assim segue o 6º álbum dos hoje senhores, mas com o mesmo espírito jovial que lançou os clássicos Nowhere (1990) e Going Blank Again (1992). A abertura “refrigerada” com “R.I.D.E.” já denota o tipo de viagem que o ouvinte terá, inclusive por caminhos mais melódicos como “Clouds of Saint Marie”.
Os anos de hibernação também não alteraram certas métricas no grupo. Lenta e contemplativa, “Eternal Recurrence” é aquela faixa que poderia listar nos seus melhores EPs iniciais.
Já “Fifteen Minutes” mostra o atual estado das coisas do mercado indie: os anos 1990 estão definitivamente de volta; bateria reta, guitarra janglin’ e baixo distorcido na hora de puxar o carro para a estrada.
“Jump Jet” traz, de uma certa maneira, o grupo de volta para 2019, porém, com seu estilo característico de grudar melodias na mente do ouvinte. Em “Dial Up”, o grupo arrisca um folk com adição de sintetizadores, causando um efeito muito interessante, mesmo sem perder a aura pop.
Outro ponto forte são as vozes dos guitarristas Mark Gardener e Andy Bell, que praticamente não sofreram mudanças com a idade.
Fim de jogo, mas não de disco. Curiosamente, a atmosférica “End Game” lembra algumas falanges que eles mesmos influenciaram, como os obscuríssimos Skywave e Alcian Blue. Às vezes, até mesmo seus contemporâneos Swervedriver.
“Shadow Behind the Sun” mergulha fundo no pop com suas nuances acústicas, fechando o disco navegando nas águas do progressivo com “In This Room”.
Mais soltos e com um olhar mais tranquilo de cima, Mark Gardener (vocais/guitarras), o ex-Oasis/Beady Eye Andy Bell (guitarras/vocais), o entusiasta por música eletrônica Steve Queralt (baixo) e Laurence Colbert (drums) mostram em This Is Not A Safe Place uma nítida e óbvia evolução em seu próprio trabalho.
No entanto, isso não significa necessariamente criar um novo estilo ou abusar de experimentos que muitas vezes não trocam ideia com mais do que meia dúzia de afoitos por música “fora da caixa”.
Aqui, o grupo parece ter se preocupado apenas em ratificar a fórmula que alavancou sua carreira. Contudo, fazendo o que sempre souberam: um shoegaze guiado por baixas temperaturas. Tipo, aqueles ventos dreampop, com certa reverência aos anos 60 por meio do jangle pop.
Envolto a inevitáveis expectativas, o Ride trouxe não somente um grande álbum para sua prateleira sônica, mas facilmente um dos mais empolgantes da classe de 2019. Candidato a clássico, e bem distante do perdido.
Ouça This Is Not A Safe Place a seguir:
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