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Foto: Gie Knaeps/Getty Images

Gang of Four: o efeito Andy Gill e o poder de fogo ao vivo na Alemanha, em 1983

Em memória do vocalista, guitarrista e ultra influenciador Andy Gill

Por Luiz Athayde

Notícias de morte de músicos e artistas quase sempre são complicadas; para não dizer frias. Se houvesse um livro do Gênesis da música, é certo que estaríamos distantes da primeira página, no que diz respeito a óbitos.

E infelizmente, a esfera que perdeu uma de suas grandes forças foi o pós-punk. Andy Gill faleceu no último sábado (01/02), aos 64 anos, após perder batalha para uma pneumonia, doença pra lá de traiçoeira, devido aos sintomas (inicialmente) não muito preocupantes.

O que de certa forma, chega a ser uma triste ironia, já que ao comando da falange Gang of Four seus ataques eram inteligentes, mas bem diretos; cortesia da cartilha oficializada pelo movimento punk de outrora.

Inglês e oriundo de Leeds da classe de 76, a banda foi apenas mais uma plataforma para disseminar as ideias de Gill e companhia, essencialmente orientadas por ideias comunistas. Não à toa a acunha escolhida vem de uma conhecida facção do Partido Comunista Chinês (“Gangue dos Quatro”), especialmente no desfecho dos anos 1960.

Sonicamente, solos fora do convencional – ou a antítese do guitar hero –, e tempos e contratempos distantes para uma típica banda da ‘nova onda’.

Ao redor do globo o status da banda sempre foi linear: influente, cult; quase uma obrigação para quem se aventurou a montar uma grupo entre o fim dos 70 e começo dos anos 80.

E desta vez, o Brasil não ficou de fora do raio atingido pelo grupo capitaneado pelo guitarrista. Aliás, é importantíssimo dizer que, se não houvesse Gang of Four não existiria Brasília; ao menos como força musical que foi graças a bandas como Plebe Rude e Legião Urbana – esta última contando com Andy Gill em show tributo à obra do saudoso Renato Russo, em 2018 – e tantas outras do cenário nacional, como Ira!, Titãs e lista interminável.

Gang of Four em uma de suas últimas formações (foto: Helen Boast Photography/Redferns)

Em entrevista ao G1, Gill chegou a revelar que teria tentado vir o país muitos anos antes, caso soubesse da sua enorme influência nesses lados. “Eu queria ter descoberto antes que o Gang of Four foi popular no Brasil, eu teria tentado ir aí desde aquela época”, disse. Que pena, mas antes tarde do que nunca, e mais: quem viu, viu.

Mesmo com uma discografia digna de respeito, nenhum álbum foi tão influente quanto o de estreia. Lançado em 1979, Entertainment! é o culpado por trazer tantas bandas ao cenário pós-punk, new wave e até pop ao Brasil.

Mas além dos discos seminais, uma das grandes características da banda era o poder de fogo das suas apresentações ao vivo.

Cheios de energia, seus shows condensavam a vanguarda das suas músicas com a inquietação do punk, trazendo algo único e necessário até os dias de hoje, já que nunca é demais reverenciar mentes criativas em meio a um mar de genéricos.

Abaixo, uma síntese do que foi o Gang of Four até ontem, mesmo sendo uma apresentação de 1983 (no lendário Rockpalast alemão), mas acima de tudo, de quem foi o guitarrista, vocalista, compostor e idealista político Andy Gill. Descanse em paz.

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