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Devoran entre sí – Cadáver Digital

Estreia da banda argentina chega “devorando” o pós-punk de orientação retilínea

Por Luiz Athayde

Saiu a estreia discográfica da banda argentina Devoran entre sí. O título? Cadáver Digital, uma espécie de diagnóstico sônico da era virtual e as relações humanas. Tudo capitaneado pelo músico, produtor e mente inquieta Andrés Ruiz, dono de uma considerável carreira solo, muito antes de constituir este projeto.

O álbum sucede o autointitulado EP de 2020, e traz uma abordagem mais, digamos, “plana”; pós-punk retilíneo e quase uniforme. Mas esta configuração está longe de um destino envolto a críticas. Pelo contrário; a sonoridade apresenta momentos de certa hipnose em meio a paisagens que vão tomando conta do ouvinte, na medida que as faixas discorrem.

Um belo, aliás, dos melhores exemplos, é o single praiano “Baldío”; indie pop nos melhores moldes de um Wild Nothing, mas com uma sonoridade enxuta e focando no climão de meio de tarde dos anos 80. A linda cidade de Mar de Ajó, na costa do país, foi o local escolhido para o cenário do videoclipe que, pela sua verdade e simplicidade, já pode ser considerado um dos mais legais do ano.

Outra faixa que merece destaque é “Error del Sistema”, especialmente pela letra: “Radares em mi puerta / Drones en la siesta Algoritmos del mal” (Radares na minha porta / Drones na sesta / Algoritmos do mal)… Autoexplicativo.

Das músicas que mais trazem uma familiaridade com nomes clássicos, pode-se dizer que “Container” ganha de lavada. Conexões com os momentos iniciais e mais intrépidos do The Cure, como em Seventeen Seconds  (1980) e Faith (1981).

Trocando em miúdos, o cadáver pode até ser digital, mas o som desta formação de Buenos Aires é tão real quanto a despretensão de soarem inovadores. E é aí que está o maior atrativo. Você não precisa necessariamente ser dark para apresentar uma crítica social incisiva, e tão pouco apelar para o groove para gerar um clima dançante.

Gol da Argentina! Mas bola para frente, afinal, o começo foi bom, mas o jogo segue.

Ouça o álbum completo pelo Bandcamp, ou abaixo no Spotify.

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