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Capitol – Dream Noise

Estreia da banda canadense não poderia ser mais gélida e empolgante

Por Luiz Athayde

Shoegaze, sim e dos bons; dos melhores. A turma de 2019 nos presenteou com excelentes lançamentos, mas a estreia dos canadenses do Capitol se destacou pelo alto nível das composições – para lá de inspiradas.

Seu degelo data de novembro de 2017, na cidade de Hamilton, Ontario, Canadá e conta com Josh Kemp no comando dos microfones, mais os guitarristas RJ Kemp e Wes Lintott, o batera Matt Lintott e o baixista Chris Mclaughlin.

Capitol (Foto: Divulgação)

E pelo visto, a camaradagem familiar é seu ponto forte. Em julho o grupo mostrou que viria com tudo ao lançar o primeiro single do ano, “Blondie”, um aperitivo pós-punk/noise rock que seria uma dominante em todo o vindouro registro.

Já em agosto e provavelmente não aguentando a ansiedade, soltaram “In Ceremony”, de longe uma das faixas mais fantásticas lançadas neste feliz ano discográfico. Sua atmosfera sonhadora serve como uma belíssima camada para a ambientação pop da canção.

Em uma galeria de momentos mais melódicos de nomes seminais como Ride, Chapterhouse e Lush, o Capitol certamente estaria presente – e está.

Meses depois, enfim, sai o álbum. Dream Noise começa com “Saint of Nothing”, como se um novo ser estivesse saindo de uma caverna para tomar de assalto outras falanges do gênero. Cortesia de sua pegada etérea e envolvente logo nos primeiros minutos de vida.

A veia pós-punk se faz presente (e como) na faixa seguinte. “Never Been to Paris” é rápida, pegajosa e com aquele vento frio típico dessa mescla que tanto deu certo. Como não perceberam antes que shoegaze, punk e o pós têm tudo a ver?

Sua velocidade diminui gradativamente em “Wish I Was Here”, perigando ser rotulada como indie em outros veículos. Porém, o que se vê aqui é uma versão modernizada da saudosa classe de 86 registrada em cassete pela New Music Express.

“Kids on Bikes” traz a parcela slowdiveana do grupo. Intencional ou não, o fato é que seu flerte eletrônico só endossou a viagem proporcionada pela banda.

Como se não houvesse chances de empolgar mais, “Queenstown” chega no melhor estilo Liverpool em um Echo & The Bunnymen shoegazer, ou Ian McCulloch depois da chuva. A essa altura, ainda é difícil mirar em um ponto alto.

“Diving Bell” não apenas foge do óbvio como ostenta ser a faixa mais original da banda até o momento. A influência de reggae casou de maneira magistral com o clima da música. É, inclusive, daquelas faixas com potencial para versões estendidas e remixes afins. Ótima do início ao fim.

Em “Guest House”, os anos 90 estão logo ali; mezzo nostálgica e com um quê de reta final. “Someone You Know” não fica muito atrás, exceto pelo rastro de sujeira sônica deixada nos seus quase 6 minutos de duração. Típica do gênero e igualmente boa.

O fim não poderia ser mais surpreendente. “Infinite Reel” vai ao espaço e faz uma conexão direta com Jean Michel Jarre da estação espacial (Neil) Halstead. Os gráficos na sala de controle indicam sinais de Just for a Day (álbum do Slowdive de 1991) e Rendez-Vous (clássico registro de Jarre, ano 86).

Álbuns do naipe de Dream Noise servem como refresco quando se pensa que não há o que e como inovar dentro de uma determinada esfera musical. Foi mais um bem sucedido mix de influências que resultaram apenas em uma das melhores bolachas sônicas do ano. Sim.

Por outro lado, a concorrência é enorme. E para não entrarem na zona de esquecimento, as mangas deverão estar bem arregaçadas. Se dependesse somente da música, o céu seria o limite. Nota 9 com braço esticado para o 10.

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