Entre o jazz e o post-rock o trio italiano foi criando paisagens até gerar um disco bem cativante
Por Luiz Athayde
Aleph é a primeira letra do alfabeto oriundo dos idiomas semíticos – hebraico, fenício, aramaico, siríaco e árabe –, que corresponde ao Alpha, do idioma grego.
Aleph é também o símbolo da unidade, do princípio, do poder, continuidade, estabilidade, enfim… só coisa boa. E Aleph foi o nome, a marca escolhida pelo trio italiano formado pelo capitão Antonio Cece (guitarra), mais Daniele De Santo (baixo) e Marco Fazzari (bateria) para enfatizar musicalmente todos esses significados.
Promenade é o primeiro cartão de visitas dos caras, trazendo faixas instrumentais que beiram o sublime, com seu tom de leveza no discorrer das músicas. O que também não deixa de ser uma viagem, já que o mesmo tem como tema a história de um viajante que explora de forma curiosa a ligação e o esforço entre o ato de partir e voltar.
Tudo isso em um passeio guiado especialmente pelo jazz e o post-rock. Se na faixa título, que inclusive abre o registro, temos o viajante preparando a caminhada, em “Mirrors” ele já se encontra em processo de redescoberta, com a maestria que o trio engloba o lado jazz ao erudito, ainda que em bons momentos pareça uma típica falange instrumental de mote progressivo.
“Half of a Second” é outra das mais belas do álbum. Além de mostrar um quê de melancolia, também apresenta a banda sem limites com suas influências minimalistas ao pintar mais uma paisagem sônica.
E o quadro foi tão fluido que seus vídeos dão ênfase às cores que permeiam a trajetória do viajante, como em “Promenade”, assinado pela italiana Ludovica Bastianini, reconhecida tanto em casa quanto fora, em função de suas pesquisas fotográficas.
Promenade não é aquele álbum que irá mudar a história (e nem deve), mas, por outro lado, é uma obra encomendada sob medida para quem aprecia música como se estivesse degustando uma bebida, um prato; não simplesmente para apertar o play e ouvir enquanto está enxaguando roupa.
Sem mencionar (mas já mencionando) que a pegada poética não só existe aqui como é válida, especialmente nesses tempos tão caóticos. Bravo!
Ouça Promenade no Spotify: