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Você Precisa Ouvir: Teho Teardo & Blixa Bargeld – Nerissimo (2016)

O refinamento pós-industrial/cinemático da dupla gerou uma peça poética de mote coheniano… e sombrio

Por Luiz Athayde

Nada tem a ver, ou vai saber, mas ainda é um tanto louco imaginar, pouco mais de 70 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, um cruzamento entre Itália e Alemanha que não seja se pegando nos gramados.

Ainda sobre o Eixo, as conexões germânicas com a cultura nipônica nunca foi nenhuma novidade, inclusive no trabalho do Einstürzende Neubauten. Vide a fantástica performance Butô em Halber Mensch, home video oficial do grupo e também uma extensão visual do álbum homônimo de 1985.

Blixa Bargeld e Teho Teardo. (Foto: Paul Bergen)

No ano 2013 depois de Cristo e 68 pós-guerra, o fino músico e compositor italiano Teho Teardo enviou um código morse para o dadaísta alemão Blixa Bargeld para uma nova aliança em forma de cantos, cordas e melodias eletroacústicas. O resultado foi o disco Still Smiling. A parceria deu tão certo que três anos depois soltaram o “pretíssimo” Nerissimo.

Com uma sofisticação cinemática adquirida em anos de experimentos e influências, o 7º trabalho de Blixa assinando seu nome e 22º do fundador do Meathead, soa como uma trilha sonora para as poesias de Leonard Cohen – uma constante durante todo o álbum, diga-se. Tudo girando entre o idioma inglês e o alemão, além de uma em italiano; própria “Neríssimo”, figurando a última faixa do disco.

No entanto, o poderio do álbum não se limita ao falecido poeta. Nerissimo vaga entre flancos outrora dominados pela época do senhor  Bargeld como um Bad Seed de Nick Cave, e estilhaços pós-industriais do Neubauten (“The Beast” é o melhor exemplo, de longe), criando algo que vai além do drama ou da mera cópia “coheniana”. Em outras palavras, trata-se de uma peça envolvente a cada minuto seguido.

Como se não bastasse, o duo fez uma belíssima releitura para “The Empty Boat”, do autointitulado álbum de 1969 de Caetano Veloso. Talvez a melhor que este quem voz escreve já ouviu.

Aliás, será que Caê conhece essa versão? Ou apenas autorizou sem ao menos dar uma sacada? Acho que vou mandar mensagem para Paula Lavigne

O conjunto de cordas não poderia desenhar melhor todo o clima do álbum, indo do suspense na faixa “Animalle”, passando pelo drama em “Nirgendheim”, ao senso de grandeza em “Give Me”.

Este é um registro com um refinamento à parte dos trabalhos produzidos por ambos, mas, sobretudo, obscuro, sombrio. Muito preto. Nerissimo. O disco que você precisa ouvir.

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