Formação espanhola traz o que há de mais sujo e melódico na esfera alternativa
Por Luiz Athayde
É, eu sei que faz longos meses que não indicamos discos de forma mais direta, ou melhor, através desta sessão. Mas a espera acabou e com os dois pés na porta: La Flor Romanial. Na verdade, melhor: com seu álbum de estreia, L’estètica del delicte.
Seria bem mais fácil rotulá-los como rock alternativo, como realmente são, e jogar aos ventos. Mas é impossível deixar passar em branco as incontáveis nuances presentes ao longo das 10 faixas.
A banda é natural da baleárica ilha de Mallorca, Espanha, e se configura com o mentor Francesc Matas, mais Bernat Benítez e Àngel Ríos. O resultado desta química saiu algo no mínimo diferente, mas sobretudo cativante de shoegaze, noise rock, punk rock e o pós.
Matas é o compositor e produtor por trás do registro feito no estúdio Son Negre DC em Felanitx, durante o ano de 2021. As vozes foram gravadas no Favela Estudis por Pep Toni Ferrer em fevereiro de 2022, pouco antes do disco ser editado pelo carimbo Bubota Música em março.
Seguido a linha de muitas bandas do estilo dos anos 80, sua duração não passa de 30 minutos. Cravados. No entanto, a tamanha energia emanada das músicas induz o ouvinte a pensar ser um disco mais longo. Nesse ínterim, o trio usa e abusa de ruídos de atmosferas que vão da gélida simbiose entre o coldwave o shoegaze, ao poderio do punk rock executado na classe de 1977.
Em termos ainda mais simples, pegue Nirvana, The Boys, Joy Division, Ceremony, The Young Gods e Jesus and Mary Chain e insira com uma seringa, doses homeopáticas de psicodelia espacial. Como Pink Floyd fez em The Dark Side of the Moon. E vá pelo começo mesmo, com “Anhel”. Seu clima de ‘caos controlado’ já denota bem a proposta. Embora “Sol Naixent” seja de deixar o pessoal do Modern English de cabelos em pé.
“Camaleons” é outra faixa das mais grudentas, por mostrar bem o lado latino nas vozes e as sombras dos clubes europeus na parte instrumental. Aliás, este foi um dos singles, juntamente com “Encems”, onde esboçam uma espécie de drum and bass garageiro.
Vale lembrar que as faixas citadas não são necessariamente os picos criativos do álbum. Muito pelo contrário. Na verdade, você precisa ouvir L’estètica del delicte justamente pela sua homogeneidade. Até porque não há parada para descanso. Esqueça baladas ou aquelas canções mais densas regidas pelo clima etéreo.
A faceta punk é realmente levada a sério aqui, inclusive pela disposição de tocarem em todos os lugares possíveis. Como se tomassem o público de assalto, deixando um zumbido nos ouvidos dos presentes pelos decibéis proporcionados. Não à toa o álbum se chama ‘A Estética do Crime’, mas tomei a liberdade para interpretar impulsionado pela pancadaria sonora, melódica e cativante do mesmo. Discaço.
Ouça sem medo pelo Bandcamp, ou abaixo, no Spotify: