A mais nova brigada do punk marroquino nasceu enigmática, mas bem barulhenta
Por Luiz Athayde
Muitas vezes tudo o que a gente precisa saber é simplesmente… Não saber.
Pois é. Aficionados em músicas do mundo – claro que não me refiro ao “modus evangelicus” de classificar sons – que curtem um desert blues dos tuaregues do Mali, Tinariwen, provavelmente conhecem seus correligionários marroquinos Tarwa N-Tiniri, bem como outros, e a última coisa que pensariam é que naquela região do Saara poderiam ter punks.
Se tem. E tão enigmáticos quanto os rostos cobertos dos pastores seminômades que se protegerem do sol e das tempestades de areia, eis que surge o Sepultura daquelas terras, mas não pelo som. Traduzindo para o idioma local, Taqbir.
Como uma ventania de 4 faixas em menos de 10 minutos (aliás, bem menos que isso) a banda da cidade portuária de Tânger, no Estreito de Gibraltar, acabou de fazer sua estreia em 2021 trazendo pouca visibilidade e muita sujeira, como se incautos ocidentais atolassem seus ouvidos ao tentar decifrar quem são, como surgiram e a que vieram.
Por outro lado, justamente por se tratar de um familiar punk rock de orientação para lá de hardcore, o brilho está na extrema energia emanada no disquinho (digital). Qualquer conexão entre o LARD de Jello Biafra e o tio Al (Jourgensen, do Ministry) em “Sma3” pode não ser mera coincidência; a mil por hora.
“Aisha Qandisha” vem logo na sequência como se fosse um reprocessamento do hardcore japonês nas falanges sônicas finlandesas dos anos 80; Kaos, Appendix, Riistetyt, Mellakka e lista infinita. E melhor: com uma fúria feminina de ecoar além do deserto, como também mostra a faixa seguinte “Tfou 3lik”, com uma abordagem incessantemente usada por bandas norte-americanas. Sem erro.
O fechamento, embora mal tenha começado, se dá com “Al-Zuki Akbar”. Um punk rock violentíssimo, imediatista e com aquela levada rápida de batera que te empolga como um soco anarcopunk.
Não bastasse isso, o registro traz uma capa nada amistosa, com os dizeres em inglês “A vitória pertence àqueles que lutam por uma causa justa”.
Esbravejar contra instituições religiosas morando no Brasil é fácil. Agora imagine nos lados de lá. Só com muitas bolas, ou, neste caso, ao modo L7 de ser, “ela tem tanto clitóris que não precisa de colhões”.
Candidato fácil a um dos lançamentos mais curtos, obscuros e barulhentos do ano, mas que não poderia passar batido, especialmente por mostrar que o punk não têm fronteiras, muito menos no Norte da África.
Ouça o debut EP do Taqbir via Youtube, ou abaixo, no Bandcamp.