Experimentalista britânico volta com um brilhante álbum após 3 anos
Por Luiz Athayde
Após a morte do lendário Richard H. Kirk em setembro do ano passado, as esperanças de uma volta do Cabaret Voltaire como uma formação foram por água abaixo, ainda que o mesmo tenha editado excelentes registros nos últimos anos. Por outro lado, há longos anos o universo eletrônico continua muito bem servido; cortesia da outra mente criativa do ato inglês de Sheffield, Stephen Mallinder.
Pois é. Embora tenha tomado seu próprio rumo em meados dos anos 90, suas atividades discográficas se mantiveram fervilhantes, mas por meio de outros grupos, projetos, como Ku-Ling Bros., Creep Show e Sassi & Loco. Ok, mas e no âmbito solo? Tivemos Pow-Wow Plus em 1985, e depois, um hiato que só se encerrou com o excelente Um Dada, que já denota a sonoridade já pelo título; dadaísmo eletrônico, anti-pop, mas não menos dançante.
Mas pelo visto ele gostou de continuar sozinho e trouxe um novo petardo: Tick Tick Tick. O play veio chancelado pela fantástica Dais Records – seriam a nova 4AD? – mas naquele esquema conta-gotas inicial, com um single aqui e ali para esquentar os motores. E só pelos aperitivos, já era se esperava algo no mínimo com a mesma qualidade que se antecessor.
Embalado em 9 faixas, o disco se apresenta como música eletrônica sincopada, desconsertada, experimental, aparentemente sem parâmetro, mas com absolutamente tudo sob medida, ou, tendo como fio condutor a fagulha que incendeia as pistas de dança: batidas cativantes dominadas por grooves poderosos; da deliciosa Acid House de “Wasteland” ao Techno de “Contact”, da nostalgia oitentista em “Hush” – um quê de trilha sonora de filmes de ação – à viciante “Shock To The Body”.
Como se isso fosse o suficiente, Mallinder faz uma natural viagem no tempo com a faixa-título, como se a mesma fosse uma peça minimalista que estivesse ficado de fora de Red Mecca, álbum clássico do Cabaret Voltaire de 1981.
Outro destaque ao longo do registro são as linhas de baixo. São elas o corpo das composições, jogando por terra qualquer argumento de que sons eletrônicos não possuem vida. Vide a potente “Guernica Gallery”, e a intricada “The Trial”.
Dado seu histórico no cenário musical, é chover no molhado esperar algo de bom vindo de Stephen Mallinder, mas, ainda assim, Tick Tick Tick surpreende pela variedade, consistência e o modo do qual dá o seu recado, ou seja, direto, sem devaneios. Ouça sem contraindicações.
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