Novo trabalho, velhas influências e a recente marca poética da banda paulista
Por Luiz Athayde
Se os ventos estão a favor para embarcações sônicas, faz-se necessário apresentar uma das mais consistentes do nosso litoral: Stenamina Boat.
Construído em São Paulo na classe de 2013, o barco é tripulado por Márcio Calixto (voz, guitarra), Igor Vieira (guitarra), Carlos Costa (baixo) e Rogério Meni (bateria), e traz para 2021 seu terceiro registro, via carimbo Paranoia Musique, batizado de Chuva Imóvel.
Ante uma enxurrada de nomes nacionais surgidos nos últimos anos, eles optaram por virar o leme para fora do cais do pós-punk mais convencional, lançando mão de influências que vão desde as raízes sessentistas ao indie rock tocado a exaustão entre meados dos anos 80 e dos 90.
Aliado a isso, nuvens densas e espessas de poesia surrealista assinada por Calixto – a alcunha da banda vem do poema homônimo de Roberto Piva –, também conhecido nos nossos mares mais profundos por comandar a web radio Disconnection.
E só daí, você, caro e cara ouvinte, já percebe que não estamos lidando com marinheiros de primeira viagem. Também, pudera: muito antes do Stenamina, Márcio já navegava com o Vesuvia, que inclusive ainda se encontra na ativa.
O play possui apenas 4 faixas, mas com um poderio sonoro que vai além de suas respectivas durações. Cortesia também de Dennis Monteiro (via estúdio Dissonância Magnética), que além de assinar a produção, ficou a cargo dos teclados.
“Superfície de um Olhar” dá a partida para a alternância entre o garage e a neo-psicodelia, com ambientações melódicas de efeitos hipnóticos, como se o ouvinte estivesse buscando o horizonte ainda na costa turva.
A sequência fica por conta da faixa título, que faz um mergulho no rock janglin’ dos anos 60, com certo processamento oitentista. Mas alguns desavisados (ou não) poderão sentir respingos refrescantes de The Church dos primeiros dias.
“Déjà-vu Machine” segue a linha cadenciada, tomando cuidado com possíveis pedras vulcânicas a caminho da próxima ilha. É aqui onde a cozinha se mostra mais intensa, com um som mais cheio, bem como nas produções de 1992.
Já no encerramento, um “erro” de espaço/tempo do universo. “Estrela Polar” é quase uma balada shoegazer, no melhor estilo Ride ou mesmo Teenage Fan Club; daquelas músicas que, se gerada em um porão de Glasgow, Escócia, poderia figurar algum lançamento da icônica Creation Records.
Chuva Imóvel tem o errante cheiro de novo, mas com gosto de nostalgia; não apenas pelas referências explícitas e ocultas, mas por remeter a um período do rock brasileiro – leia-se: a zona intermediária e parte do mainstream –, onde a preocupação lírica era tão importante quanto a musical. Em suma, bom em cada frase, certeiro em cada acorde.
Ouça o EP na íntegra a seguir:
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