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Robin Guthrie – Pearldiving

Uma das forças criativas do Cocteau Twins também se mostra um workaholic de mão cheia

Por Luiz Athayde

Qualquer adjetivo usado para se referir ao músico escocês Robin Guthrie pode soar suspeito se olharmos seu vasto currículo. E, mesmo que não fosse o caso, basta ver o que ele fez na lendária formação dreampop Cocteau Twins.

Robin Guthrie Foto: (Divulgação)

O também compositor, produtor e especialista em engenharia de áudio, vem se mostrando, especialmente nesses tempos pandêmicos, um workaholic, com a permissão do pleonasmo, de mão cheia. Somente esse ano, ele soltou dois EPs e algumas músicas “soltas”, que o próprio disse se tratar de “músicas órfãs”; tendo em vista que não fariam parte de nenhum lançamento cheio.

Mas, o registro em questão é Pearldiving. Disco cheio. Instrumental. Daqueles que passam diversas sensações ao ouvinte, incluindo as típicas paisagens sonoras que criamos a cada audição de um disco voltado para o ambient music. Só que, vindo de quem ajudou a registrar clássicos como Treasure (1984), Victorialand (1986) e Heaven Or Las Vegas (1990), a coisa vai além pelo simples fato de ter vida própria – carregar sua marca.

Registros como esse geralmente se configuram como uma espécie de unidade sônica, impedindo que críticos de plantão apontem um destaque; ou te toca ou não. E, cá entre nós, acho bem difícil passar batido logo em sua abertura, “Ivy”, uma das dez faixas a hipnotizar com uma leveza melódica que foge de qualquer explicação. Na verdade, quase angelical mesmo.

Ou as submersas “Castaway” e “Oceanaire”, pela abordagem marinha, de conexões latentes com o compositor francês Éric Serra, que assinou nada menos que a fantástica trilha do filme Imensidão Azul (Le Grand Bleu), de Luc Besson, em 1988. “Presence” também não escapa desse contexto, embora soe mais gélida, com fortes respingos de melancolia.


Já na altura de “Kerosine”, a penúltima faixa, é que se percebe que se está em um mergulho (“diving”) sem volta, em um tipo de música feita para se desligar de tudo que está ao redor. A diferença é que foi gerado por um expert em sons climáticos, mas com toda a pompa e sensibilidade para não apresentar algo em linha reta, como muitos experimentalistas fazem.

É fato que o nome “Cocteau Twins” é grande; traz uma aura cult, de desejo de reunião, afinal, nada como ele junto com Elizabeth Fraser e Simon Raymonde. Entretanto, quem acompanha a trajetória de Guthrie, seja no âmbito solo ou colaborativo, sabe que essa falta é subjetiva, e que seus álbuns dizem por si. Boa viagem com Pearldiving.

Ouça o disco completo no Bandcamp, ou abaixo, pelo Spotify.

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