Pianista promove seu novo álbum ‘Átrio’, editado pelos carimbos Brava e MenasNota
Por Luiz Athayde
O pianista pernambucano Renê Freire escolheu uma das peças mais intrigantes seu álbum Átrio, lançado em conjunto pelos carimbos Brava, de São Paulo, e MenasNota, da Bahia: “Myosotis”.
Como tudo que envolve seu trabalho, a faixa, bem como o discorrer do álbum, vem com um significado mais profundo, o da saúde mental.
“Myosotis ou não-me-esqueças é uma flor com cinco pétalas verde-azuladas, com tamanho que pode chegar a 30cm e que vive em baixas temperaturas e altitudes elevadas” começa descrevendo a composição. “Esta planta é nativa da Rússia e o seu nome significa, no grego, “orelha de rato” em referência ao formato de suas pétalas. Myosotis também é uma composição que comecei em 2017 e terminei em 2021.Myosotis tem quatro partes contrastantes entre si: Andante, Dança Macabra, Etéreo e Efúgio e, devido aos seus ímpetos, provoca uma mudança da condição performática muito brusca, se assemelhando a uma colagem, remetendo a uma personalidade esquizofrênica.”
E isso é percebido logo no primeiro instante, também ao surpreender pela capacidade da faixa capturar o ouvinte com suas mudanças “sem aviso” de temperamento, por assim dizer.
A música é acompanhada de um belo videoclipe, assinado por Anny Stone. Nele, mais conexões, não somente com a planta russa, como o à arquitetura, em especial às entradas e salas principais de construções desde a antiguidade – aqui mostradas através de esqueletos de edifícios abandonados no meio da mata.
Composto por 8 faixas, Átrio era supostamente uma dissertação de mestrado em Composição na Universidade Federal da Paraíba, gerado entre os anos de 2016 e o pandêmico de 2021. Para esta feita, Freire contou com seu orientador Valério Fiel da Costa para a co-produção, e Luã Brito nos efeitos eletrônicos. A mixagem e masterização ficaram a cargo de Emygdio Costa, conhecido por trabalhar com nomes como Cadu Tenório e Letrux.
Sobre o título do registro, o músico revela que o mesmo teve início “a partir de uma conversa informal com um amigo sobre os processos criativos em uma composição musical”.
E continua: “Segundo a concepção deste amigo, o processo criativo em uma composição é fruto de um trabalho racional, quase puramente científico. Na conversa, eu discordei de tal assertiva, expondo que, na minha concepção, o ato criativo na composição musical teria uma ação muito mais emocional que racional. Devido a tais questionamentos gerados por esta discussão é que tive a ideia de intitular uma peça para piano, que eu estava compondo na época, que pudesse fazer alusão à inquietação gerada pela discussão. A palavra escolhida foi ‘Átrio’, que além da peça, que também está contida no álbum, se tornou o título do disco”.
O sucessor de Nevroses – disco inclusive, gerado com um piano danificado em um acidente doméstico que resultou em um incêndio no quarto do músico. A escolha por permanecer com o instrumento foi uma referência ao piano preparado de John Cage, que lançava mão de borrachas e parafusos entre as cordas com o intuito de escavar novas linguagens artísticas –, de 2020 se encontra disponível nas plataformas digitais, incluindo o Bandcamp. Confira o vídeo abaixo.