Além de disco novo para 2022, com direito a teaser de versão demo da faixa “Luzia”
Por Luiz Athayde
A esfera hardcore, ou ao menos parte dela, foi pega de surpresa com uma notícia bombástica; tanto para o mal quanto o bem: o vocalista Sandro Juliati está fora do Mukeka Di Rato, após 15 anos, dois discos (“Carne”, de 2007, e “Atletas de Fristo”, lançado em 2011) e um EP (“Hitler’s Dog, Stalin Rats”, de 2015); além de incontáveis giros pelo Brasil e no mundo.
Essa foi a segunda saída do também compositor, que gravou os álbuns clássicos Pasqualin na Terra do Xupa-Kabra (1997) e Gaiola (1999). Ocorrida em 2000, quem assumiu os vocais foi Bebê (Dr. Mobral, Kusta Pässää), gravando os discos cheios Acabar Com Você (2001) e Máquina de Fazer (2004).
Em comunicado feito nas redes sociais, a banda revela que o motivo foi o grande abismo entre as duas agendas, ao mesmo tempo em que deseja sorte ao ex-companheiro.
“Informamos que Sandro não é mais o vocalista da banda. Devido a total incompatibilidade de agendas, ele tem que priorizar outros projetos que está envolvido e não pode estar conosco no momento. Finda-se assim o segundo ciclo dele no Mukeka. Suerte a todos!”
Por outro lado, o trio remanescente Fabio Mozine, Paulista e Brek não perderam tempo em anunciar o novo dono dos microfones: “A partir de hoje nosso novo cantor é o Senhor Fepaschoal, ou apenas Fepas. Oriundo da cena Hardcore de Guarapari / ES, porém, há muito tempo estabelecido na cidade de Vitoria, onde compôs, gravou e lançou seus discos e musicas, além de fazer trilha pra cinema, produção, a porra toda…”
E continuam: “Talvez você já tenha escutado ele e nem saiba. Ele é um dos responsáveis pelo disco Indio Cocaleiro do Merda, onde fez de tudo um pouco (vozes, letras, instrumentos exóticos, produção) e até atuou no clip da musica tema. No próprio Mukeka ele ja gravou uma musica: “Pagando o Pato”, do disco Atletas de Fristo. Suerte Fepas.”
A fim de trazer uma luz entre o passado e o futuro, o Class Of Sounds entrou em contato com o mentor Mozine, bem como o agora ex-vocalista para tecerem suas versões. E, antecipadamente, emitimos um alerta de spoiler: não há sinais de polêmica.
Sobre a saída de Juliati, o baixista revelou certa urgência em preparar o sucessor do EP: “Sandro está verdadeiramente muito ocupado com tarefas diversas e a gente quer fazer esse disco agora. Essa distância entre a gente culminou na saída, foi pacifica.”
Já com Sandro, perguntamos se essa decisão se trata de um ponto final, tendo em vista o histórico de registros gravados com a banda e o reconhecimento e respeito ante o público, mídia e, especialmente, o cenário punk/hardcore.
“Nenhum afastamento é tranquilo, né cara. Isto envolve uma decisão, que culmina em escolhas de caminhos próprios. Dialogamos por telefone e vimos que estamos com agendas incongruentes e em ondas diferentes. Os três estavam numa fita e eu em outra, e agora não dá mesmo pra continuar. Talvez em outro contexto consigamos estar em sintonia, quem sabe.”
Comentando sobre a nova voz e os berros do Mukeka, Mozine não economizou palavras para apresentar seu currículo: “Fepas sempre teve muito ligado comigo: lancei seu primeiro disco na laja, ele co-produziu indio cocalero, tocou com Os Pedrero no Teatro Carlos Gomes [em Vitória], gravou “Pagando o Pato” do Mukeka, no disco ‘Atletas de Fristo’, toca com outra parceira da Läjä [Rekords, sua gravadora] no Roberta de Razão, ou seja, ele já fazia parte, só entrou”, disse.
Embora não fizesse ideia de quem seria seu substituto, Sandro não somente aprovou, como contou que o guarapariense já foi uma influência. “Confesso que fiquei surpreso, não passava pela minha cabeça. Mas achei certeira a entrada do Fepas na banda”, comentou o co-autor de faixas obrigatórias no set list do grupo, como “Presos”, “Do Contra ao Favor” e “Homem Borracha”.
E acrescenta rasgando elogios a Fepaschoal: “Ele sempre foi um “lajaboy” e colaborou com diversos trabalhos, seja no Mukeka ou nos projetos satélites à banda. Recentemente, ele ate fez uma releitura foda de “Rambo”. Eu curto muito todo trampo do Fepas, desde o Expurgação (uma das paradas que me influenciou no meu grupo Volapuque), ele tem um embrião na cena hardcore, e domina bem a dinâmica destas composições e arranjos vocais. É um “perfil” potente pra levar essa barca. Vento em popa!”
Boiada Suicida é o nome do novo álbum, que já se encontra em avançado processo criativo. “…já estamos trabalhando nele nos ensaios”, diz a banda. “Marca a nossa volta à gravadora Deck, que vai cuidar principalmente da parte digital”. A produção será assinada por Rafael Ramos, o mesmo do disco Carne, de 2007.
Ainda segundo comunicado, o novo trabalho começa a ser gravado “em algum mês do primeiro semestre de 2022 no RJ, no estúdio Tambor”, e sairá carimbado pela Läjä Rekords nos formatos LP, CD e K7.
Como forma de instigar os fãs, eles liberaram o primeiro aperitivo; a versão demo de “Luzia”, uma das faixas que estarão presentes no vindouro álbum. A mesma também marca oficialmente o encerramento do hiato iniciado após se apresentarem na cidade natal, Vila Velha, ES em 2017.
Confira o teaser abaixo.
Errata: esta matéria foi alterada em 17 de dezembro de 2021 para substituir os títulos das músicas citadas da fase inicial. “Quer Ir, Vai!”, “Mickey” e “Minha Escolinha” são de autoria de Fabio Mozine. “Presos”, “Do Contra ao Favor” e “Homem Borracha” foram co-escritas por Sandro Juliati.