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Iggy Pop – Every Loser

Indiscutível pai do punk voltou às suas raízes mais viscerais

Por Luiz Athayde

Vai vendo: o cara é ninguém menos que responsável por ser a estrela guia de onze entre dez bandas punks (e outras vertentes do rock) com o colossal Stooges, detém uma discografia extensa, ativa e com momentos que por vezes se sobressai ao adjetivo espetacular e, principalmente, no alto de seus quase 76 anos, não precisa provar nada para ninguém.

A parcial vaga foi tão proposital quanto a atitude que rege o músico americano James Newell Osterberg, mais conhecido como Iggy Pop: dedo médio para todo mundo ver. Malcriações à parte, às vezes, quando ele surge anunciando algo novo, minhas reações seguem nesta sequência: “quê?”, “mal posso esperar para ouvir”.

Iggy Pop (Foto: Vincent Guignet)

E como acontece esporadicamente, ele voltou a surpreender. A começar pelo título: Every Loser. Sendo que seu primeiro álbum se chama The Idiot. Sacou? “O Idiota”… “Cada Perdedor”… O fato é que algumas conexões sônicas se fazem presentes. Ainda que a mais próxima feita com sua estreia tenha sido a parceria com Josh Homme (Queens Of The Stone Age), que gerou o fantástico Post Pop Depression em 2016.

Além disso, e desta vez nada novo, ele contou com elenco de peso. De estrelas como Duff McKagan (Guns N’ Roses), Chad Smith (Red Hot Chilli Peppers), Stone Gossard (Pearl Jam), Dave Navarro (Jane’s Addiction), Travis Baker (Blink 182), e o saudoso Taylor Hawkins (Foo Fighters), a Chris Chaney, Josh Klinghoffer e Adrew Watt, que fez um trabalho brilhante de produção – e também lançou o play pelo seu carimbo, Gold Tooth Records.

Tudo bem que seleção dourada não garante um bom espetáculo, mas aqui a parada foi muito além. O disco é configurado em 11 faixas cuidadosamente selecionadas, onde Iggy faz, vulgarmente dizendo, faz uma espécie de raio x de sua carreira. Sim, tem abusos para todos os lados. A começar com o single “Frenzy”; rock de garagem que só não foi revivido porque nunca morreu. Obrigado.

Mas basta tentar se recuperar do choque ao ouvir uma faixa tão pesada que na sequência surge “Strung Out Johnny” jogando uma pedra new wave na sua cara a ponto de te fazer esquecer que existe bandas como The Mission, The Cult, e outros “The’s” daquela época.  “New Atlantis” começa com o protagonismo da aura acústica e segue pelas melhores vias radiofônicas.

Como descanso não parece ser o mote no álbum, “Modern Day Rip-Off” traz aquela pegada sleaze glam/punk que tantas bandas da segunda metade da década de 80 lançaram mão. Nem é preciso dizer que Duff aparece como co-autor novamente, indo além do papel de baixista. “Morning Show” desce a montanha russa de sensações através de uma balada melancólica familiar. Ela soa como se fosse uma canção de Mark Lanegan, mas é quando você, ouvinte, se põe no devido lugar e percebe de onde tudo saiu.

Em “The News For Andy”, o mote é o interlúdio jazz blues como pano de fundo spoken word para seu humor ácido para homenagear Andy Warhol:

“If your psychologist or therapist / think that you need medication / That is a great reason to come to Elevate Psychiatry /  We will work with the referral source  / to come to a consensus diagnosis /  And a treatment plan that will allow you / to feel better faster”

(Se seu psicólogo ou terapeuta / pensar que você precisa de medicação / Essa é uma ótima razão para vir à Elevate Psychiatry* / Trabalharemos com a fonte de referência / para chegar a um diagnóstico consensual / E um plano de tratamento que lhe permitirá / se sentir melhor mais rápido”)


Agora, a expressão ‘chover no molhado’ nunca se mostrou tão exata quanto em “Neo Punk”. Pois é. Dispensa apresentações. “All Way Down” tem aquele teor de super produção, mas na sua cerne, é hard rock/new wave nos moldes (maravilhosamente) surrupiados pelo Hanoi Rocks. Grande faixa, especialmente pela explosão de seu refrão.

Já na  “Comments” a abordagem é nitidamente pós-punk, lugar que ele nunca nunca deixou de visitar. “My Animus Interlude” é outra faixa curta, que prepara o disco para seu desfecho, mas, ainda assim, chama a atenção pelo timbre de guitarra remetido ao gótico. Nomes óbvios à vista. E por falar em fim, “The Regency” cumpre esse papel de forma magistral ao resumir todo o trabalho em pouco mais de 5 minutos.

A classe de 2023 mal começou seu ano letivo. Ainda há muita coisa para ser lançada, mas até segunda instância, Every Loser é o que está rolando de melhor na praça. Por conter tudo que um excelente álbum precisa: dar conta do recado em tão pouco tempo – lembrar que estamos na era da velocidade, músicas por segundo – e ainda mexer com seus sentidos. Aquele velho esquema de te fazer deixar o repeat apertado por um bom tempo.

No mais, pai é pai e todo respeito é pouco para quem veio antes e ajudou a criar um universo, mesmo quando erra. Embora nem de longe seja o caso aqui. Que disco! Para todos os “idiotas”, para “cada perdedor”.

Ouça Every Loser na íntegra a seguir:

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