Conversamos com a mente mestre, Jon Krieger, para saber mais deste ato singular da música extrema
Por Luiz Athayde
Basta a gente achar que determinados gêneros musicais não têm para onde ir que nos descobrimos surpreendidos com novos caminhos, novas abordagens. Se tratando da cena metálica, o cerco se fecha ainda mais, tendo em vista as supostas cartilhas empregadas, em geral, pelos fãs.
E quando o assunto é black metal? Bom, não necessariamente. Desde sua explosão na Noruega, nos áureos anos 90, que o estilo apresentava influências à parte do que era considerado “extremo”; música étnica, inicialmente a folclórica escandinava. Viking. Com o passar dos anos, isso foi se ampliando inclusive geograficamente. Ainda assim, parece que faltava algo que se alinhasse à pegada sombria que o gênero pede. E surgiu: BlackBraid.
O projeto ou ‘one man band’ é tão novo que sequer aparece na enciclopédia digital, Metal Archives. Ainda. Surgida nesse começo de 2022 nas Montanhas Adirondack, no Estado de Nova York, Estados Unidos, até o momento, dois singles viram a luz do dia; “Barefoot Ghost Dance on Bloodsoaked Soil”, no começo de fevereiro; e o mais recente, “The River of Time Flows Through Me” (ouça abaixo).
Carregadas por uma atmosfera tão gélida quanto a cordilheira que se divide com o território canadense, as músicas vêm causando certo furor no underground também pela temática e sua parte estética. Em português, “black braid” significa “trança negra”; um nome típico da cultura indígena da América do Norte, da qual pertence seu mentor, o artista, fotógrafo, compositor e multi-instrumentista Jon Krieger.
Em uma rápida, mas exclusiva entrevista para o Class Of Sounds, ele contou um pouco sobre suas motivações, influências e sobre o álbum de estreia, Blackbraid I, ainda em fase de processamento. Além de indicar bandas e artistas que andam tocando no seu play. Confira.
Como surgiu a ideia de fazer um projeto assim?
Jon Krieger: Eu sempre amei blackmetal e toquei metal a maior parte da minha vida. Eu sempre quis fazer um projeto de black metal, mas estava apenas esperando o momento certo. Há tanto black metal por aí hoje em dia que pode ficar um pouco repetitivo e decepcionante. Eu queria fazer um disco que trouxesse uma nova perspectiva para o black metal. Então acho que foi isso que me levou a começar a escrever essas músicas.
A qual tribo você pertence e qual é o significado de “BlackBraid”?
Jon Krieger: Não sou registrado. As leis quânticas de sangue são um problema importante na América do Norte e não sou reconhecido pelo governo federal como parte da minha tribo. Este é um assunto muito delicado e não acho que alguém queira entrar em detalhes políticos de alistamento tribal e quantum de sangue em uma entrevista de metal.
Parece que a música do BlackBraid não é sobre ódio, e sim sobre sua relação com a natureza, espiritualidade, herança e lutas internas. Era sua intenção seguir um caminho diferente?
Jon Krieger: Paganismo, natureza, magia negra e guerra sempre foram uma grande parte do black metal. Era minha intenção tocar em todos esses assuntos às vezes, mas fazendo do meu jeito, de uma perspectiva nativa americana, algo com o qual muitas outras partes do mundo podem não estar familiarizadas ainda. Eu moro nas montanhas longe de qualquer cidade, constantemente imerso na natureza. Então, sim, a natureza é uma grande parte da minha música e sempre fará parte do Blackbraid. Embora nossa história esteja cheia de violência e opressão também e ainda haverá mais músicas orientadas para a guerra, bem como dança de fantasmas descalços em solo encharcado de sangue. Então, para resumir, não vejo Blackbraid indo apenas de uma maneira.As músicas irão mudar com base nas minhas emoções enquanto eu as componho, eu acho.
Quais são suas influências musicais e não musicais?
Jon Krieger: A natureza e as montanhas em que vivo são minha maior influência. A história dos nativos americanos também é algo sobre o qual escrevo de tempos em tempos. No que diz respeito ao black metal, existem muitas bandas incríveis neste momento para listar, especialmente comigo tendo um pouco de influência de todas elas. Para chamar a atenção para alguns lançamentos mais recentes, aqui estão alguns dos álbuns [das respectivas bandas] do ano passado que mais gostei:
Mare Cognitum
Nechochwen
Wormwitch
Ethereal Shroud
Këkht Aräkh
Ifernach
O vindouro álbum de estreia, Blackbraid I, foi todo feito sozinho? Você pode falar um pouco mais sobre o processo atual?
Jon Krieger: Na maior parte foi.Todas as músicas foram compostas/arranjadas por mim. Eu toquei todos os instrumentos e vocais fora a bateria. Meu bom amigo que também é engenheiro de áudio e baterista gravou o álbum para mim. Ele é muito melhor na bateria do que eu, então acabamos escrevendo a bateria juntos e ele mesmo as gravou. Mas todo o resto foi executado por mim.
Quando ele será lançado?
Jon Krieger: Os lançamentos de vinil estão a nove meses no mínimo em qualquer lugar da América do Norte agora porque o mercado é um show de merda. Então você pode esperar vinil no outono ou inverno [ou na nossa primavera/verão no Hemisfério Sul, entre setembro e março do próximo ano], eu gostaria que fosse mais cedo, mas não tenho controle. Atualmente estou pensando em fazer um CD e um lançamento digital antes, talvez na primavera ou no verão [do Hemisfério Norte].
Ok, agora uma pergunta mais profunda, eu acho. Para encerrar esta rápida entrevista, você poderia nos contar 3 discos que você levaria para uma floresta desolada? E por que eles?
Jon Krieger: Que pergunta difícil! Quando estou em uma floresta, geralmente prefiro o ambiente e atmosfera, então ficaria tentado a pegar um álbum folk ou atmosférico ao invés de um metal.Um álbum que eu mesmo trouxe para a floresta muitas e muitas vezes foi o Dauðra Dura, do Forndom. Aderindo à veia do ambiente calmo, também sou um grande fã da flauta nativa tradicional e do canto, então talvez um álbum do Tony Duncan ou da Fawn Wood. Por último, acho que devo escolher um álbum de metal. Os dois que vêm à mente primeiro seriam Doedskvad, do Taake ou The Maldoror Chants, do Schammasch. Dito isto, provavelmente há mil discos de black metal com os quais eu ficaria feliz na floresta, é tão difícil escolher apenas um!
Native American and Black Metal: An Interview with BlackBraid
We spoke with the one man band Jon Krieger to know more about this singular extreme music act
By Luiz Athayde
When we eventually think that a certain musical genre may have no room for improvement, we soon find ourselves surprised by new paths, new approaches. When it comes to metal scene, this rooms is even shorter due to the orthodoxy shared by most fans.
But when it comes to black metal, is it the same? Well, not necessarily. Since it´s break through in Norway in the 1990s golden ages, the style has had other influences apart from what was considered “extreme”, such as ethnic music – initially scandinavian folk, viking. Over the years, this has even expanded geographically. However, it feels that something that really fits the dark aproach the genre asks for was still missing. But it came up: BlackBraid.
The project or ‘one man band’ is so new that it does not even appear in the digital encyclopedia, Metal Archives. Arising in early 2022 in the Adirondack Mountains, New York State, USA, it has so far gave birth to two singles; “Barefoot Ghost Dance on Bloodsoaked Soil”, released in early February; and “The River of Time Flows Through Me”, the latest one.
Overwhelmed by an atmosphere as icy as the mountain range in which their hometown is set, over the boudaries to the Canadian territory, the songs have been causing some furor in the underground due to the themes and its aesthetic aspect. “Black braid” is a typical name from Indigenous Culture of North America, to which belongs the band´s mentor: artist, photographer, composer and multi-instrumentalist, Jon Krieger.
In a short but exclusive interview for Class Of Sounds, he told us a little about his motivations, his influences and it´s debut album, Blackbraid I, still to be concluded, and also nominated bands and artists who are playing on his playlist. Check it out…
How became the idea to make a project like this?
Jon Krieger: I have always loved blackmetal and have played metal most of my life. I always wanted to do a black metal project but was just waiting for the right time. There is so much black metal out there these days it can get a bit repetitive and underwhelming. I wanted to make a record that brought a new perspective to black metal. So I guess that’s what led me to start writing these songs.
Which tribe you belong and what’s the meaning of “BlackBraid”?
Jon Krieger: I am unenrolled. Blood quantum laws are a major issue in North America and I am not federally recognized as part of my tribe. This is a very sensitive subject and I don’t think anyone wants to go into the political details of tribal enrollment and blood quantum in a metal interview.
Seems like BlackBraid music is not about hate, but about your relationship with nature, spirituality, heritage and inner struggles. Was your intention to go to a different approach?
Jon Krieger: Paganism, nature, dark magic and war have always been a big part of blackmetal. It was my intention to touch on all these subjects at times but to do it in my own way, from a native American perspective, something that many other parts of the world may not be familiar with yet. I live in the mountains far from any cities, constantly immersed in nature. So yes, nature is a massive part of my music and will consistently be a part of Blackbraid. Although our history is full of violence and oppression as well and there will still be more war oriented songs as well like barefoot ghost dance on bloodsoaked soil. So to sum it up, I don’t see Blackbraid going just one way. The songs will change based on my emotions as I write them I think.
What are your musical and non musical influences?
Jon Krieger: Nature and the mountains I live in are my biggest influence. Native American history is also something I write about from time to time. As far as blackmetal goes there are just too many amazing bands at this point to list, especially with me taking a little bit of influence from all of them. To draw attention to some more recent releases, here are some of the albums from the last year I enjoyed most:
Mare Cognitum
Nechochwen
Wormwitch
Ethereal Shroud
Këkht Aräkh
Ifernach
Was the upcoming release, ‘Blackbraid I’, made all by yourself? Can you talk little more about the current process?
Jon Krieger: For the most part it was. All the songs were composed/arranged by me. I preformed all the instruments and vocals aside from the drums. My good friend who is also an audio engineer and a drummer recorded the album for me. He is much better at drums than I so we ended up writing the drums together and he tracked them himself. But everything else is preformed by me.
When will the debut album be released?
Jon Krieger: Vinyl releases are nine months away minimum anywhere in north America right now because the market is such a shit show. So you can expect vinyl in the fall or winter, I wish it was sooner but I have no control. I’m currently thinking I’ll do a CD and digital release sometime beforehand, maybe in the spring or summer.
Ok, deep question, I guess. To end this quick interview, could you tell us 3 records you’d take to a desolate forest? And why them?
Jon Krieger: What a hard question! When I’m in a forest I generally prefer ambience and atmosphere so I’d be tempted to take a folk or atmospheric record over a metal one. An album I have brought to the woods many many times myself would be Dauðra Dura by Forndom. Sticking in the vein of calm ambience I’m also a huge fan of traditional native flute and singing so maybe an album by Tony Duncan or Fawn Wood. Lastly I suppose I should pick one metal album. The two albums that come to mind first would be Doedskvad by Taake or The Maldoror Chants by Schammasch. That being said there’s probably a thousand black metal albums I’d be happy with in the woods, it’s so hard to pick just one!
Ouça os singles abaixo/Listen to the singles below:
Mais BlackBraid:
Projetos fotográficos e videográficos de Jon Krieger:
Alduvin Bonecraft
Coyote Blood
Wolf Mountain Productions
Entrevista/Interview: Luiz Athayde
Revisão/Text Revision: Jaime Bernardo Neto
Fotos/Photo: Divulgação/Press/Wolf Mountain Productions
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