Precisaram registrar dois álbuns para darem conta dos efeitos da eterna água batizada no mar do norte da Europa
Por Luiz Athayde
Se houvesse uma fotografia de um encontro entre Soft Machine, Miles Davis e Deep Purple em um pub de nome Emerson, Lake & Palmer, nos anos 70, certamente, nos dias de hoje, alguém teria escrito atrás: Elephant9.
De certa forma, ela existe. Por uma banda da terra do bacalhau e do black metal, formada por Stale Storlokken (teclados), Nikolai Eileftsen (baixo) e Torstein Lofthus (bateria). Integrantes daquela pequena, mas movimentada cena que ainda conta com os espaciais Jaga Jazzist e o black jazz do Shining.
Sua discografia teve início em 2008 com Dodovoodoo, seguido pelo excelente Walk the Nile em 2010. Ambos saíram pelo carimbo Rune Grammofon, especialista nas geladas falanges psicodélicas.
Registros não são nenhuma novidade no grupo norueguês. Mas esse, em duas partes, veio para consolidar sua potência sonora quando está em cima de um palco.
Psychedelic Blackfire 1 e 2 fazem jus ao título, já que a banda mergulha no universo jam embalado por boas doses de quadrados em uma linha de frente, especialmente voltada para os teclados.
A fim de aumentar o grau de lisergia, o trio contou novamente com o sueco veterano do rock progressivo Reine Fiske – sua história com a banda envolve inúmeras participações em festivais, assim como no álbum ‘Silver Mountain’, lançado em 2015 –, contribuindo para a atmosfera quase mística, de mote sutilmente ambiente em alguns momentos.
Da quase stoner “Farmer’s Secret” a psicodélica “You Are The Sunshine Of My Life”, a banda consegue simplesmente te hipnotizar, pegar pelo braço e levar junto no longo passeio sônico.
Todavia, para quem tem como mote tocar jazz por caminhos sinuosos, ou seja, nada convencionais, isso pouco ou nada importa.
O Elephant9 trouxe à classe de 2019 dois discos que sequer parecem ser ao vivo; tamanha a polidez contida nele. No entanto, ao mesmo tempo é um álbum que sintetiza com maestria a sonoridade de um dos nomes mais legais e interessantes dessa esfera musical.
E mais: potencial para agradar a todos os gostos. Até porque, diversidade não falta, e qualidade… bom, deve ter alguma coisa na água norueguesa.
Ouça Psychedelic Blackfire I…
E Psychedelic Blackfire II.