Americaníssimo, Western Stars traz ecos de um passado que na verdade sempre se fez presente na carreira do “The Boss”
Por Luiz Athayde
Apesar da qualidade inegável de seus inúmeros trabalhos, chega ser impressionante como os hiatos entre seus discos parecem não causar alterações tão drásticas. Se fizermos uma comparação partindo do prisma etário. Cinco anos separam o bom High Hopes e o novo e visivelmente mais inspirado álbum Western Stars.
Muitos fãs estiveram receosos por não haver mais discos ou longas turnês após o “The Boss” abrir o coração publicamente – e com detalhes em sua autobiografia “Born to Run” – sobre sua saúde mental; herança deixada pelo seu problemático pai. E, realmente, Bruce Springsteen optou por não excursionar no ano de 2019 com sua E Street Band, apenas por querer focar em outros projetos musicais. Mas isso não o impediu de criar um álbum tão marcante no alto dos seus 69 anos de idade e de energia.
O que aparentemente seria uma conexão com seus gloriosos primeiros anos de sucesso como Born to Run (1975) e Nebraska (1982), se mostrou uma olhar reflexivo do que ele sempre fez: música para a alma. Independente do formato. Para pensar, dançar ou até mesmo se estarrecer com as injustiças do mundo.
Western Stars nunca foi tão americano, como mostra “The Wayfarer”: “It’s the same sad story / Love and glory goin’ round and round / It’s the same old cliché” (“É a mesma história triste / Amor e glória dando voltas e voltas / É o mesmo clichê”). Ou na belíssima faixa-título, onde Bruce conta a história de um ator que trabalhou com John Wayne, mas que agora vive de comerciais televisivos – de Viagra à cartões de crédito.
A animada, mas não menos dramática “Sleepy Joe’s Café” daria um ótimo roteiro “onde os caminhoneiros e os motociclistas se reúnem todas as noites ao mesmo tempo”, que nos remete imediatamente a momentos – inclusive no que diz repeito a sua construção – de Tunnel Of Love (1987).
Entre belos arranjos de cordas, “Stones” traz aquela típica caminhada para o fim de um disco. Mas, bem longe de ser algo ruim, especialmente pelas faixas que se sucedem, como “Hello Sunshine”; uma sincera prece por dias melhores.
Isso é apenas alguns dos 12 exemplos do Bruce Springsteen mezzo fictício, mezzo autobiográfico. Envolto a muitas cordas, metais e suas tradicionais orientações acústicas de pegada folk, que faz de Western Stars tranquilamente o melhor álbum (de sua extensa carreira) em muitos anos.
Ouça Western Stars: