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Você Precisa Ouvir: Kiethevez – Opium (1997)

Fantástico degelo eletrônico diretamente da terra do Abba e do Death Metal

Por Luiz Athayde (28/11/2019 – Atualizado em 17/10/2024)

Até o momento, nenhum cientista sônico tomou a frente de alguma pesquisa para descobrir se há, de fato, algo diferente na água que banha os países nórdicos.

Em especial, a Suécia. País que ao longo da história nos presenteou culturalmente com ases em todas as esferas artísticas; de Ingmar Bergman no cinema a Jan Johansson na música.

Nos anos 1990, destaque para a explosão do death metal com Entombed, Dismember, Hypocrisy e os herdeiros radiofônicos do lendário ABBA nas pistas de dança, Ace of Base.

Já no subterrâneo eletrônico, a coisa também andou bem movimentada, ainda que modesta em relação às bandas orientadas para a guitarra. Do obscuro Poupee Fabrikk no EBM, ao bem sucedido Covenant no Future Pop, temos, sentados na fileira do meio, Kiethevez, com seu seminal segundo álbum, Opium – lançado neste exato dia, na classe de 1997.

Kiethevez (Foto: Divulgação/Press)

Formado no fim da maravilhosa década sônica de 80 por Tomas Amneskog, Per-Henrik Petersson, Jesper Palmqvist e Jörgen Falmer, esse quarteto havia soltado até então apenas o cassete Undressed Confessions em 1991 – a última vez que achei uma cópia para venda no mercado de colecionadores o valor ultrapassava 600 doletas; raridade é pouco – e o debut em longa duração Three Empty Words (1994). Por sinal, um delicioso pastiche de Information Society embebido em Pet Shop Boys.

Seu segundo “período” registra, digamos, a formação de caráter dos suecos de Gotemburgo. Trata-se de synthpop de doutrinação depechista, incluindo certa elegância estética na preparação para o fim do milênio…

As gravações ocorreram de janeiro a julho de 1997, no Coeur Noir Studios, localizado na cidade natal dos caras. Seu carro-chefe, “Can’t See This”, foi um dos singles a ganhar produção videoclíptica disponível por um bom tempo no site da banda. Além de fragmentos de mp3 degustados a exaustão por este até a oportunidade de pegar o disquinho.

 | Linha do tempo pessoal: era começo de dois mil e alguma coisa e o famoso Youtube sequer existia. No entanto, caçar novidades em vídeo já era meu mote nos intervalos do meu antigo trabalho. O computador não era lá essas coisas, mas já dava para o gasto.

Tudo bem que a MTV ainda exibia clipes, porém, para mim ela já havia morrido; só faltava ser enterrada. É que eu não conseguia engolir a vigente onda de bandas de prefixo “The” massivamente expostas na emissora. De todo modo, um belo acaso me levou ao site do Kiethevez, que me revelou alguns clipes bem legais. Como já era fã após conferir sua participação em um tributo alemão ao Depeche Mode, a piração foi imediata. |

Houve até uma situação curiosa envolvendo o diretor e o vocalista Jesper Palmqvist.

Capa do CD single de “Can’t See This” (Imagem: Reprodução)

Mas este é apenas o começo. Na medida que o álbum avança, o poderio só aumenta. Embora orientado por nuances que lembram New Order, o pegajoso refrão de “Religion” mostra a urgência por uma identidade própria.

Ela acaba escorregando, no bom sentido, na grande faixa do disco, “The End”. Todos os elementos que fazem uma música grudar na cabeça estão ali. O ano pode ser 97, mas a vibe nostálgica do fim dos 80 não larga a espreita.

“One Roman Choir” e “Wait” mandam um abraço dos mais fortes ao corpo docente que criou a cartilha intitulada Violator, do Depeche Mode; típica faixa synthpop para festinhas afins.

Dentre as músicas (citadas e) ouvidas até dizer chega na época, está “Erina”. Outro single por sinal, inclusive lembrando como era o Zeitgeist dos registros discográficos desta esfera quando abordava a introspecção.

Mais um som de trabalho: “Destinies”. Disparado uma dos mais legais do Compact Disc. Groove ultra viciante, clima de chapar a medula e vocais que só ajudam a manter no transe. De mote dark, a irônica “Happy Today” vem com uma batida intencional de início de década, como se o atraso para eles fosse apenas um sinal pessoal de atemporalidade. Explicando melhor, Soul 2 Soul já tentava outros flertes. 

De volta a calmaria, “Holy Water” abre passagem para “Seems So Easy” em uma nova viagem ao universo dos refrãos pegajosos que esse gênero tanto pede. “Off the Wall” e “Make Me” adentram em um terreno atmosférico, mas sem soar como um típico desfecho. Intencional ou não, é onde a banda deixa um fio “solto” para o subsequente registro, que só iria sair do forno 11 anos depois.

Inovar fazendo synthpop não é uma tarefa fácil, tendo em vista os medalhões do gênero circulando por aí. E mesmo os que só ganharam notoriedade com pouco mais de um registro, seguem na frente por terem integrado a era inicial da música eletrônica de mote popular.

Você precisa ouvir Opium por ser um belíssimo e empolgante resumo autoral do que de melhor rolou no synthpop feito durante a segunda metade de cada década citada; por sua atmosfera, criatividade e atitude deveras kamikaze de tentar se inserir na volátil camada do mainstream.


Can’t See Info:

+ O tributo alemão em questão citado no “parênteses” é o ‘Reconstruction Time’,
lançado sob a chancela dos carimbos Khazad-Dum, Celtic Circle Productions e SPV em 1996. Os suecos marcam presença em uma gravação ao vivo de “Photographic”.

+ ‘Non-Binary é o álbum do Kiethevez de 2008 citado acima. Ele saiu carimbado pela
Different Drum na Europa e nos Estados Unidos.

+ Primeira faixa a entrar em ‘Opium’, “Destinies” foi gravada em 1995 no Studio 1, e conta
com mixagem assinada por Urmas Plunt – assim como todo o álbum.

+ Outros créditos incluem: masterização por Kenneth Svensson; backing vocals por Jessica Strand; guitarras por Helena Nygren (que também assina as fotos juntamente com Marcus Johansson) e Martin Holmström; e a bela capa, assinada por Dennis Berggren.

Ouça Opium na íntegra a seguir:

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