Segundo disco cheio do músico carioca expõe com mais exatidão o DNA do rock britânico
Por Luiz Athayde
Se a classe de 2023 encerrasse hoje, certamente estaríamos bem no que diz respeito a lançamentos discográficos nacionais. E o músico e compositor carioca Paulo Metello, um dos responsáveis. Graças as suas, ou melhor, seu segundo e novo álbum de estúdio, Saudades, Memórias e Sonhos Lúcidos.
Recém-editado pelo carimbo Paranoia Musique, o sucessor de Liquid Sky (2019) apresenta 12 odes ao rock britânico em suas variantes. É vero que tal abordagem já foi incessantemente explorada em território brasileiro, mas nem tanto com um resultado desses.
Uma das coisas interessantes é que a salada de referências é devidamente admitida pelo artista: de Beatles a Echo & The Bunnymen; David Bowie aos Smiths; e demais conexões contemporâneas. Inclusive reinterpretadas, como a versão para “The Universal”, do Blur.
O álbum também traz músicas em inglês e português, mas isso acaba sendo o de menos. Não no sentido ruim, pelo contrário: as canções soam tão homogêneas que iriam funcionar mesmo se ele cantasse em mandarim.
Um play com tantas faixas necessita de um começo que pegue o ouvinte logo de cara. Nem é preciso dizer que “Telescope” faz sua parte ao abrir a lente da neo-psicodelia; há tanto tempo por aí que não sei se é exatamente algo que deveria ser chamado de novo.
“Days Gone By” faz a ponte com a cena de Liverpool sob uma inconsciente ótica australiana. Algo como Ian Mcculloch (Echo & The Bunnymen) dando o ar da graça em um trabalho antigo do The Church.
“Psychotronic Wave” segue a via oposta ao flertar com a música eletrônica. Curiosamente, ela remente à uma época em que nossos vizinhos latinos faziam esse tipo de experimentação, a exemplo do saudoso Gustavo Cerati (Soda Stereo). Já “Hey Dad” é aquele tipo de canção de emocionar mesmo o mais frio dos ouvintes, especialmente quando se toma conhecimento do tema:
“É uma homenagem ao meu pai, uma conexão e uma reflexão sobre o processo de superação de uma grande perda na vida, admiração das saudades e uma percepção mais abrangente da realidade”, disse Metello.
Inclusive o single ganhou um belo videoclipe filmado na estrada Rio-Petrópolis, da madrugada ao amanhecer. Fantástico.
A sequência é com “Memórias Futuras”, uma composição mais melódica, mas não menos carregada de melancolia. Seu mote é um tanto sessentista e mostra ambiências orquestradas por teclados. Se há um momento cinematográfico no álbum, é este.
“Tão Perto” tem um quê de Legião Urbana ressoando no fim dos anos 80. Também nessa mesma linha do tempo surge outro single do álbum, “Terracota Paradiso”, enfatizando o lado The Cure de Paulo. Além de outros medalhões, como New Order, Joy Division e The Stone Roses.
Parace faixa de encerramento de disco, mas não. É apenas “A Invenção do Amanhecer” quase fazendo o papel de interlúdio acústico/etéreo para “Twilight Dreams”, explicitamente influenciada por Depeche Mode. Aliás, ela soa como um outtake de “Clean”, do Violator (1990). Sem-vergonhice maravilhosa.
Possível single? Só sei que “Like a Pixie” pede tal status, dado o teor alternativo e radiofônico emana. Os anos 90 nunca estiveram tão perto. Mas para fechar o ciclo, “Além da Aurora do Tempo” apela para a introspecção no seu melhor: Lennon encontra Nick Drake, inclusive na, sempre ela, melancolia.
Referendar álbuns é o que há de mais forte por aqui, especialmente quando não há uma ou outra faixa de destaque. Lembra da homogeneidade acima? Então. Esse é o lance. E este, o disco.
Ouça Saudades, Memórias e Sonhos Lúcidos pelo Bandcamp. Ou abaixo, no Spotify.
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