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The Jazzinvaders – Last Summer in Rio (feat. Alex Malheiros, Ivan Conti & Lilian Vieira)

O que seria um “deixa rolar” no estúdio, acabou virando mais um disco inspirado dos holandeses

Por Luiz Athayde

Não há dúvidas que muitos álbuns são gerados da espontaneidade de uma (ou várias) jam sessions, mesmo com um ou outro músico tendo esboços, esqueletos ou apenas aquela ideia na cabeça.

No caso da formação holandesa The Jazzinvaders, esse tipo de coisa não poderia dar errado: nessa “brincadeira” de estúdio, estavam ninguém menos que o baixista Alex Malheiros e o batera de mão cheia Ivan Conti Mamão, ambos da lendária banda  jazz fusion Azymuth. O resultado? Disco na praça: Last Summer In Rio.

The Jazzinvaders feat. Azymuth (Foto: Divulgação)

Capitaneado pelo baterista, bandleader e produtor Timothy van der Holst (também conhecido como Phil Martin), os invasores jazzistas são compostos por Rolf Delfos (alto saxofone), Peter Broekhuizen (sax barítono), Cees Trappenburg (trompete), Berthil Busstra (piano Rhodes) e Linda Bloemhard (voz).

A saga teve início em 2014, quando rolou oportunidade deles trabalharem com os músicos cariocas. Apesar do curtíssimo prazo de dois dias, saíram cinco faixas inéditas, mais cinco clássicos do (e tocados pelo) Azymuth rearranjados. E já começam bem com “Avenida das Mangueiras”; ao pegarem a essência da original e incluírem  doses cavalares de latinidade.

A faixa seguinte é conhecida de muitos. “Circo Marimbondo”, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos (também presente no álbum ‘Geraes’, de Milton) aqui sequer parece que tem dedo gringo; tamanha a homogeneidade apresentada. Ainda sobre participações, quem também faz bonito é a cantora Lilian Vieira, não só nesta, mas no discorrer do registro.

“Monday Evening” configura a primeira autoral, e onde a banda se mostra ainda mais, explorando outros terrenos, como o R&B e o afrobeat, ainda que a zona da bossa seja bem clara. Já vale avisar aos navegantes que se trata de um dos pontos altos.

“Partido Alto” é mais uma canção da brigada carioca, levando co-autoria de Flora Purim. Esta soa mais cheia, encorpada, sem muitas alterações em relação à presente no clássico álbum Light As A Feather, de 1979. “Jazz Carnival” também chega caprichada, com um caráter mais dançante – especialidade da casa – por sua pegada soul/disco music.

Já na brilhante “Summer Breeze”, novo pico no gráfico sônico do álbum; nu-jazz cheio de charme, com destaque para as harmonias vocais, que te pegam logo de imediato. Impossível sair incólume, especialmente se ouvida em uma tarde à beira-mar.

Agora é a vez do ‘samba doido’ com  “Tambourim, Cuica, Ganza, Berimbau”, faixa extraída do disco Águia não come mosca, de 1977. Esta é interessante também pela curiosidade de ouvi-la com os recursos tecnológicos de 2021. A calmaria vem novamente com o cima baleárico da faixa-título. É aquele tipo de música de regular a pressão de qualquer hipertenso de plantão. Sem contraindicações.

Caminhando para o desfecho, temos mais samba. Nova releitura para Milton via Azymuth. “Aqui é o País do Futebol” não seria, digamos, o tema mais apropriado para o Zeitgeist se tratando de Brasil, mas não deixa de ser uma grande versão apresentada.


Aos 45 do segundo tempo, “Turn Left (based on Are You Going with Me?)”. Como o título denota, se trata de uma visão neerlandesa para música homônima do guitarrista Pat Metheny, que mesmo em sua versão original, de norte-americana não tem nada; é bossa nova até a medula.

É verdade que tem nada de novo ver  músicos de outras nacionalidades sendo explicitamente influenciados pela nossa tão rica, complexa (e injustiçada) música brasileira, mas conferir um time de talentos como esse, fica no mínimo, muito difícil não prestar atenção no que sairia em um bate-bola entre Phil Martin e cia, e os ases do “samba doido” do Rio de Janeiro. Fim de jogo: empate com gosto de vitória para ambos os lados.

+ Last Summer in Rio teve lançamento inicial no Japão em 2019 pela P-Vine Records, e em 10  de setembro estará disponível oficialmente no resto do mundo nos formatos CD e vinil pelo carimbo Unique Records.

Ouça o álbum na íntegra pelo Spotify.

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