O século 21 no calendário macedônio é pop, mas com a incessante energia do punk
Por Luiz Athayde
Mais uma brigada macedônia dando as caras, mas por rostos conhecidos. Com uma espécie de Bernays Propaganda Redux, o multi-instrumentista Vasko Atanasoski ataca de vocalista no 2 Vek, que também conta com o baixista Rade Jordanovski e o guitarrista Deni Krstev, ambos de sua banda principal.
Não só reduzido como mais simples; o novo registro, 2 LP soa como um alívio sônico nas atividades panfletárias do Bernays em faixas que beiram o minimalismo mixado à incessante energia do punk rock.
“Ulica po ulica” já começa flertando com Pixies e The Presidents of the United States of America, em ares notoriamente pós-punk, mas sem suas nuvens cinzentas. Ainda mais básica, “Magii temni mi pravis” vem com andamento mais cadenciado, perfeito para execuções radiofônicas.
Parece que a nostalgia noventista também chegou por aqueles lados. Basta ouvir “Zemi se’” para tirar as dúvidas. Já o lado janglin’ se revela em “Doma si doagam”, como a dupla Morrissey/Marr fizesse uma versão ainda mais raivosa de “What Difference Does It Make” para algum lado b do The Smiths. Mas a essa altura, que diferença isso faz? Para o 21 vek, certamente, nada.
Baixo na cara, bateria marcada e linhas de guitarra quase orientais. É assim que segue “Crveni stitovi”, inclusive com Vasko lançando mão do spoken word em algumas passagens. Um dos grandes momentos do álbum, diga-se.
Na sequência, “Dvajca”. Pegada reta, power pop de nuances inglesas e (provavelmente) não intencionalmente sul-americanas. Mais uma daquelas músicas de grudar na cabeça e não sair mais; talvez uma especialidade desta rapaziada.
“Se oblekov vo belo” e “Staro sonce” são faixas que não empolgam no primeiro instante, mas a medida que o tempo (dis) corre, ambas se revelam como algumas das mais consistentes do disco; afinal, estamos diante de outra proposta musical.
De duração meteórica, o primeiro álbum do 21 vek encerra com “Kriljata gi izgubiv”. Tomando como exemplo grandes nomes do rock progressivo dos anos 70 que migraram para uma sonoridade mais simples (pop) na década seguinte, o 21 vek fez algo similar – e permitido – no seu primeiro 12 polegadas em relação ao elaborado Bernays Propaganda.
O grupo balcânico chega à classe de 20 com um álbum simples e direto ao ponto, como todo pós-punk de caráter despretensioso; tanto que seu processo criativo foi originado em ensaios ocorridos entre maio e novembro de 2019, ou seja, nada mal. E que venham mais belos ensaios como esse.
Ouça o álbum completo e adquira no formato digital acessando o Bandcamp oficial da banda.