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Nite – Sleepless

Gêmeos trouxeram o sabor de ouvir um disco inteiro em meio a era da liquidez

Por Luiz Athayde

Há pelo menos 15 anos ou até mais, nove entre dez bandas rotuladas como “indie” que se dizem influenciadas pelos anos 80, seguem o caminho traçado por bandas, como The Smiths e New Order, por mais que algumas delas não assumam – ou, até mesmo saibam.

Do lado mais sofisticado, aquela década nos trouxe, Duran Duran, Spandau Ballet, Johnny Hates Jazz, Ultravox e o rocker INXS, apenas para citar alguns; todos parentes próximos ou distantes do Roxy Music, do patriarca do charme, Bryan Ferry.

Foto: Whitney Hensley

Estamos em 2020 e eis que o Nite surge com seu terceiro álbum. Capitaneado pelos gêmeos canadenses de origem portuguesa, Kyle e Myles Mendes, Sleepless acabou de chegar sob chancela do icônico carimbo, Cleopatra Records em um belo formato vinil azul.

São 10 faixas que se digladiam para alcançar o status de ‘a mais radiofônica’. “Life and Love” abre o disco com um clima tão ensolarado quanto os dias mais quentes de Malibu – e não de Dallas, no Texas, onde os Mendes residem.

“Pretending To Be” não foge à regra. O baixo é o fio condutor para as melodias no melhor estilo Sophisti-Pop; pegada dominante em todo o registro.

Divulgada anteriormente como um single, “All You’ve Ever Dreamed Of” traz toda a nostalgia necessária aos que vivenciaram os dias dourados do Tears for Fears, que graças aos deuses dos bons sons, ainda continuam ativos; tranquilamente um dos melhores momentos do álbum.

“Sleepless Through The Night” aparece crescendo como uma das mais fluidas, já que sua ambientação faz com que o ouvinte simplesmente se deixe levar pela sua pegada quase baleárica.

Na faixa seguinte, impossível não lembrar novamente da dupla Roland Orzabal e Curt Smith, especialmente nos vocais. Se o álbum fosse medido em um gráfico, não resta dúvidas que “Hurt No More” estaria em um dos picos mais elevados. Não à toa também ganhou single e videoclipe para promovê-la.


Já “Everything In The Dark” segue o curso das composições de vigentes atos indie/dreampop, enquanto que a ainda mais eletrônica “Never Leave Me Alone” mostra outras nuances do duo, como as baladas R&B do fim dos 80/começo dos 90; inclusive é onde as melodias vocais dos gêmeros ganham destaque.

“I Don’t Know Who I Am” ataca de AOR/West Coast no melhor estilo “Rádio Antena 1”; vocais etéreos e aquelas imagens na cabeça que nos remetem ao melhor cliché dos clipes feitos na década de 80: os fins de tarde.

Caminhando para o fim, o ponteiro do gráfico volta a subir (e como!) com “Lost Souls”. Candidata a melhor do disco, é a música que pega o ouvinte nos primeiros segundos e o arranca de vez do corpo no assim que começa o refrão. O motivo é simples; ela junta o melhor das duas épocas: o antes e o agora. Não obstante, é quando você percebe que o Nite possui vida própria, e que realmente entendeu as bandas de outrora.

“The Morning Von” encerra o álbum como uma canção perdida das sessões de Reborn, de 2017. Ainda assim, sua pegada Synthpop – Depeche Mode Remix ou New Order em seus B-sides mais obscuros – não faz feio.

Algo inevitável em qualquer crítica que se preze é descobrir por onde o artista escolheu se guiar, independente se suas influências são musicais ou não.

Embora o que mais haja na sonoridade dos irmãos Mendes sejam referências, Sleepless foi feito para ser ouvido sem se preocupar com isso, e melhor; traz de volta o sabor de ouvir um disco inteiro, sem pular faixas.

Na corrida dos lançamentos discográficos no universo pop, é cada vez mais difícil mirar quem vai despontar para o já “crowdeado” mainstream. Todos sabemos que isso depende de uma série de fatores, mas se fosse somente pela qualidade apresentada aqui, é certo que com este álbum, o Nite chegaria lá fácil. Vamos aguardar – ouvindo Sleepless.

Ouça o álbum no Spotify:

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