Estreia dos trabalhadores ingleses dos sons de pista chegou chutando velhas portas sônicas
Por Luiz Athayde
A essa altura do campeonato – também conhecido com ‘mercado musical’ – você que ainda não ouviu o novo registro discográfico do Working Men’s Club, não marque bobeira porque o negócio aqui é sério.
Como meu prezado xará Luis Taylor comentou em matéria prévia, a lembrança que ficará deste ano é o álbum de estreia desta fantástica banda de Todmorden, norte de Manchester. Logo ali.
Composto pelo capitão Sydney Minsky-Sargeant (vocais, guitarra, programações), Liam Ogburn (baixo), Rob Graham (guitarra, sintetizadores) e Mairead O’ Connor (guitarra, teclados, vocais) o grupo naipe “recém-saído do colégio” andou soltando um punhado de singles bombásticos no ano passado; um mero aperitivo para o que viria a seguir.
2020 chegou e com ela, a pandemia, mas nem isso desaminou o clube dos trabalhadores, que soltou sem dó sua já aguarda estreia de dez faixas pelos carimbos Heavenly Recordings/[pias]. A princípio, New Order – especialmente do período entre 1986 e 1993 – é o grande prisma do qual a banda se guia, mas com o passar do tempo, outras tantas nuances são nítidas.
Resenha faixa a faixa? Não recomendo, especialmente para um disco tão redondo como esse. Mas se preferir, coloque Bernard Sumner (vocalista e guitarrista do New Order) e cia em uma pick-up e, na outra, faça sua melhor seleta oitentista de 12 polegadas: Devo, Joy Division,Talking Heads, Modern English e até mesmo Gary Numan; dentre outros…
O que dizer de “Valleys”? Como se tivesse saído diretamente de Technique, deles mesmos, New Order. E “White Rooms and People”, ao fazer uma conexão sem vergonha entre David Byrne e o comecinho do Ultravox.
Por mais injusta que seja deixar de comentar uma por uma, a que não pode mesmo ficar de fora é a faixa homônima, reverenciando o poeta punk inglês John Cooper Clarke. Aqui onde se encontra o resumo da obra: groove hipnótico, riff mezzo janglin’ e sintetizadores futuristas – partindo de uma visão dos anos 80, claro. Pedrada certa.
Em um momento que nada parece ser possível no que diz respeito a originalidade, eis que surge uma banda que soube mesclar com maestria suas influencias musicais da sempre em alta década de 80. A diferença é que a pegada minimal foi trazida para uma camada mais próxima do mainstream e com um talento fora de série para cativar quem ouve.
Todo e qualquer adjetivo superlativo para designar o primeiro cartão de visita destes socialistas dos sons eletrônicos ainda é pouco. É bem verdade que o clube dos trabalhadores de Manchester mal chegou, mas baseado no que temos aqui, eles ficarão por muito tempo trazendo novas pautas, ou melhor, novos sons.
Ouça o Working Men’s Club no Spotify.