Quando a corrente de pensamentos, leva a corrente da pesquisa que apresenta um disco de memórias
Por Luiz Athayde
Pós-isso, pós-aquilo, pós-rock. Pode ser música ambiente? Eletrônica? O tal do downtempo? O disco que você precisa ouvir tem tudo isso: A Memory Stream, terceiro registro do duo The American Dollar.
A descoberta foi naquela típica situação de procurar sons na internet e acabar dando de cara, ou melhor, ouvidos com tal preciosidade. Na verdade eu estava destrinchando o Alcest; banda francesa também conhecida como “pós alguma coisa” metal com fortes influências meio cachorras de Slowdive.
Na época a banda tinha somente dois álbuns e na fissura de grupos correlacionados fui caçando projetos paralelos, e acabei me deparando, via Youtube, com um curta de animação que levava o mesmo nome de uma das canções dos franceses, Tir Nan Og.
Nos seus 4 minutos, um crescendo etéreo casando de forma magistral com a pequena trama. E na sequência, o óbvio: saber de quem era a trilha sonora. Ao ver os créditos do curta, vi que era Fursy Teyssier, ex-baixista ao vivo do Alcest e mentor do projeto de “pós alguma coisa com doom metal” Les Discrets – fantástico por sinal –, mas logo vi que não tinha nada a ver com sua banda.
Logo abaixo: “Ah sim!” The American Dollar. Claro que de imediato dissequei a discografia até aquele período (2012), para em seguida descobrir que se trata de um duo nativo do Queens, Nova Iorque – da mesma área que os Ramones, que coisa. Ok, mas qual era a música? A primeira e belíssima parte de “The Slow Wait”.
As mentes criativas por trás do projeto são os multi-instrumentistas Richard Cupolo (guitarra, baixo, teclado) e John Emanuele (bateria, teclado), outrora no Stars in December, banda que mal rendeu um EP em 2005, Remember the Sound.
E no momento em que você, caro viciado em novidades, lê, eles contabilizam 12 álbuns de estúdio desde sua formação naquele mesmo ano; entre registros de inéditas e versões ainda mais tranquilas – sim, é possível – de seus respectivos álbuns, em uma série sugestivamente intitulada “Ambient”.
Mas o legal de A Memory Stream é justamente o fato de juntar as nuances mais etéreas e angelicais até, aos momentos mais no formato baixo, guitarra e bateria ‘a todos os pratos’, já que permite encorpar ainda mais a sonoridade.
A segunda parte de “The Slow Wait” é um ótimo exemplo, por desconstruir tudo com seus tempos e contra tempos. Ou “Transcendence”, quase seguindo a mesma linha.
Outro destaque é “Anything You Synthesize”, representando o lado mais cinematográfico do disco; seja em um drama urbano ou mesmo um bem editado documentário sobre arquitetura.
Menção honrosa para o fechamento “Starscapes” com sua epopeia sônico-espacial. Anos-luz um dos grandes picos do álbum.
A Memory Stream pode não reescrever a história do chamado pós-rock, mas certamente agrega um valor fora de série. Como todo movimento ou enxurrada de grupos que surgem, sempre há aqueles que se destacam pela qualidade ou por estarem no lugar certo e na hora certa (pois é, tem isso), e os tantos outros que escorrem no valão dos genéricos.
Felizmente o The American Dollar se enquadra da primeira opção, ainda que façam seu trabalho à mineira, lançando discos consistentes, mas sobretudo gostosos de ouvir. E importante dizer: não somente para trabalhar, estudar ou correr, como muitos fazem, mas para sentir as músicas no bom e velho ritual do vinil. Vai na fé. Recomendo sem medo.
A Info Stream:
+ Para assistir a animação Tir Nan Og, clique aqui.
+ Tanto o nome da música quanto da banda aparecem nos créditos ao final do curta, mas me encontrava tão chapado pelo vídeo que precisei assistir novamente para me ligar. Mas foi daí que pesquisei a fundo.
+ A Memory Stream ganhou versão em CD pelo carimbo Yesh Music e vinil duplo (limitado) pelo mesmo selo juntamente com a Pirate Ship Records, ambos em 2008; além de reedições em 2011, também em 12 polegadas.
Ouça A Memory Stream no Spotify: