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Você Precisa Ouvir: RØKR – RØKR (2017)

Mais uma das recentes descobertas sônicas obrigatórias na “corrente do bem” do Class of Sounds

Por Luiz Athayde

“Fala cara! Zero blasé aqui!”. Um trecho da resposta que tive ao fazer, nitidamente empolgado, contato com o jovem cantor e produtor pernambucano com cara de norueguês e radicado em São Paulo, Roberto Kramer. O motivo? Sua hipnótica apresentação sob a alcunha RØKR, no Breve, emergente casa de eventos na capital paulista.

A resposta veio como um refresco mental à discriminação sofrida pelo público indie – para melhor entendimento, tente imaginar um evangélico de 2019 dizendo que existe preconceito contra os cristãos – em forma de memes, chacotas aos seus narizes torcidos por seu visual e “atitude” apáticas.

Bom, de qualquer maneira, embora esteja inserido até a medula no meio, o senhor Kramer se encontra anos luz de qualquer adjetivo pejorativo que envolva a esfera independente. Na verdade, melhor que isso: ele segue produzindo como nunca.

Roberto Kramer como RØKR ao vivo (Foto: Arquivo Pessoal)

Enquanto tento te convencer do por que você precisa ouvir seu autointitulado álbum, o multi-instrumentista deve estar algum palco pelo Brasil atuando como baixista do Apeles, que inclusive lançou seu novo álbum Crux pelo mesmo carimbo que Kramer, Balaclava Records. Além de comandar as quatro cordas na turnê brasileira, ele deixou sua marca no álbum ao assinar a masterização.

O show presenciado naquela noite de reviravoltas do dia 28 de abril foi a abertura do How To Dress Well (confira aqui), no mesmo “after” ocorrido na casa Breve.

Cheguei com o set no começo, regado a um fluido passeio entre o synth, dreampop, e um chillwave de causar arrepios em adictos por Toro Y Moi e Washed Out nos seus “dias de tape”. Obviamente que o impacto foi imediato, me obrigando a acompanhar o que ele fizesse musicalmente daquele dia em diante.

Extremamente ambientado, o álbum é envolto a melodias que circulam nebulosamente na cabeça em canções como “You Wake” e “Fear City”. Essa trip, no entanto, serve como um preparativo para “Arepas”, uma espécie de Pink Floyd baleárico. Não à toa, ela figura uma das faixas de trabalho do registro.


Efeitos vocais e psicodelia esfumaçada se fazem ainda mais presentes na “You Made Me Legalize” e, especialmente, em “Nu U 2”. Esta lança mão do clichê do alternative R&B, aqui ganhando uma cara própria e sob um clima bem legal de se ouvir.

Já “Nu U” é aquela faixa de mil e uma possibilidades. Caso houvesse distorções, seria uma grande música shoegaze. Mas não. Kramer preferiu desenhar o desfecho em uma bela sequência relaxante, alcançando seu profundo estado ‘chill’ na faixa “Soul”. Estresse não cabe por esses lados.

Também não há nada de diferente do que dizer na instrumental “Pi”, que inclusive encerra o debut.

A pior parte do status quo sônico talvez nem seja a falta de originalidade nos atos B, C e D de um determinado movimento musical, mas a carência de honestidade em prol de uma notoriedade tão vaporizada quanto esses aparelhos à bateria. Somem.

E felizmente, o RØKR não se enquadra nesse estado gasoso. Sua solidez vem do tino para captar sentimentos e transpor para sua música, consequentemente a tornando verdadeira – independente se ela irá alcançar grandes públicos ou não.

É a classe de 2017 que você quer? Então sente na cadeira rosa, deixe seus ouvidos tão nus quanto o olho da capa e sinta a experiência (excelentes fones de ouvido ajudam) de um fantástico disco eletrônico, psicodélico e ao mesmo tempo palatável. Feito em terras brasileiras.

Ouça RØKR, o álbum na íntegra a seguir:

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