Pequeno clássico perdido da terra da rainha
Por Luiz Athayde
Todos sabemos que montar uma super equipe de estrelas não garante campeonato, quiçá visibilidade, especialmente quando o âmbito é musical.
Mas tudo depende da proposta proferida do setor criativo; neste caso, sediado em Londres, capital da Inglaterra, porta de entrada (e saída) das mais variadas esferas musicais.
Em um belo (ou não) dia de 1980, o entusiasta pelos sons jamaicanos Adrian Sherwood teve a ideia de juntar uma rapaziada para figurar suas composições orientadas para o dub. Surgia o New Age Steppers. Uma espécie rara de vitiligo sônico, onde a cor menos importa e a música é a máxima.
Os três primeiros anos contabilizaram trabalho intenso, inclusive ao contactar o vasto time que fez render as composições do inglês, incluindo, claro o despretensioso (?) Action Battlefield.
Quem faz as honras em boa parte do registro é Ari Up, já conhecida por suas atividades lamacentas no grupo punk The Slits com seu vocal nada típico – “Typical Girls” é, de longe, a maior tacada das Slits –, mas não menos importante, lá na quarta faixa, “My Love”, temos uma desconhecida Neneh Cherry dando o ar da graça com seus vocais quase em estilo mantra.
Pois é, o anos 80 mal haviam começado (e ela nascido) e a sueca, filha do mestre jazzista Don Cherry já estava causando no circuito sônico. Isso para não mencionar suas peripécias no movimento punk…
Outros nomes incluem o batera Bruce Smith (Public Image Ltd.), o jamaicano Bim Sherman, George Oban, Antonio Phillips e lista interminável.
A possível prova do caráter não comercial Action… é a sua pegada experimental e também por sair no recém-criado carimbo On-U Sound Records, do próprio Adrian Sherwood, com intuito de editar exclusivamente doideiras desse porte.
Do dadaísmo esfumaçado da capa a última faixa, temos altas e baixas pressões sonoras de experimentalismos psicodélicos e totalmente permitidos, endossados pelos grunhidos estridentes de Ari – na verdade, os grooves te fazem imaginar ela toda serelepe nos palcos –, tendo com uma base uma batida extremente seca, destoando de qualquer pompa.
O ponto alto da drog… viagem? Certamente “Nuclear Zulu”. É onde o ouvinte percebe que, enfim, desta vez o efeito foi benéfico, embora ouvidos acostumados com reggae/pop possam não dar conta.
Outra que passa muito perto é “Guiding Star”. Guiado pelo prisma da soul music, esta faixa mostra, de um jeito nada sutil, uma das raízes da árvore genealógica da música jamaicana; todo sentimento aqui é pouco.
New Age Steppers é o supergrupo que não criou asas, mas que manteve os pés firmes no chão batido do reggae e suas variantes dubistas, e este segundo registro é praticamente um tributo ao um gênero musical, que por suas infinitas possibilidades estava longe de sumir do mapa, e é por isso que você precisa ouvir Action Battlefield.
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