“Ela não vem com uma mensagem, ela é a mensagem. Ela não é didática, ela é poética.”, diz Anna Homler
Por Luiz Athayde
Falar sobre Anna Homler, não é falar sobre qualquer pessoa. Seu currículo é tão vasto quanto desconhecido para o grande público; Direct Sound, The Chopstick Sisters, Sugarconnection, Voices of Kwahn e Puppetina; falanges eletrônicas, experimentais e sobretudo vocais. Isso sem mencionar suas produções solo, entre parcerias e vôos solitários. Dentre elas, de longe, a mais marcante: seu alter ego Breadwoman.
O ano era 1985, na Los Angeles; pós-jogos olímpicos, da era Reagan, do auge do Hair Metal e da efervescente cena do rap político. Entre tudo isso e muito mais, Anna Homler juntamente com Steve Moshier lançava o primeiro e mais marcante trabalho de sua carreira musical. Segundo a própria, no mini-documentário “Breadwoman Tales & Tails”, a composição do personagem começou “com uma vontade irresistível de se vestir de pão”, ao mesmo tempo, sons rondavam sua cabeça sempre que estava no carro. E embora ela se considere mais uma artista visual do que de fato uma cantora, as músicas foram tomando forma, assim como as letras – um caso à parte.
Homler simplesmente criou um idioma; de caráter misterioso e ao mesmo tempo soando familiar, como se fosse uma espécie de crossover entre dialetos africanos e eslavos.
“Eu costumava dizer que eu havia inventado essa língua, mas na verdade não inventei, eu a encontrei”, revela a artista.
Nas cinco faixas da fitinha – originalmente gravado no Innocent Hands Studio e lançado em cassete pela entidade Pharmacia Poetica; um grupo itinerante de performances artísticas, mas que também examina qualidades simbólicas e tonais de palavras e objetos –, palavras em tom de música e cânticos que mais parecem conversações; em meio as nuances percussivas e ambientações causadas pelos sintetizadores de Steve Moshier.
Muitos anos depois, a mais etérea faixa “Yesh’ Te” ganhou vídeo, com a “Mulher Pão” segurando duas baguetes em pontos movimentados da cidade de Los Angeles.
Assista:
Aventuras musicais não lineares nunca foram novidade, tão pouco quando a mescla vem acompanhada do cênico de tom provocativo, mas aqui Anna Homler foi além, especialmente ao levarmos em conta a época e a localização geográfica de onde o contexto foi gerado, trazendo até os dias de hoje uma reconfortante sensação de incômodo, e é por isso mesmo que você precisa ouvir Breadwoman.
Ainda: em 2016 Breadwoman ganhou uma reedição em CD e Vinil com uma capa diferente e com mais duas faixas: “Sirens” e “Celestial Ash (Edit)”, via carimbo nova-iorquino Rvng Intl.