Num passeio sensual e fantasmagórico, o ABC Love não poupa o ouvinte de despertar seus desejos mais profundos
Por Luiz Athayde
Noite do dia 24 de abril de 2019, enquanto os roadies faziam os prepares para a primeira apresentação do Ride no Brasil, especificamente no Balaclava Fest, na Áudio em São Paulo, surge uma banda misteriosa no telão. Sob luzes frias, alguns integrantes usavam véus, e o vocalista, como se fosse uma entidade que tivesse tomado uma forma humana, entoava sons tétricos, quase guturais sobre melodias hipnóticas.
Era o ABC Love. Nu, cru e melhor, explícito; promovendo o seu Álbum do Prazer, lançado em 2017 via carimbo Balaclava Records. Comandado pela figura espectral atendida por Gevard DuLove, o grupo paulistano vai além de uma simples aparição sobrenatural; é para ficar. Ou pelo menos até “todos os desejos serem atendidos”, como disse Gevard em um comunicado.
São pouco mais de 36 minutos de uma obscura e fantasmagórica pegada setentista entrelaçada a um lo-fi de mote psicodélico, onde a máxima é criar um ambiente totalmente propício aos deleites da carne. Mas para ter certeza que o ouvinte irá adentrar na atmosfera do disco, a banda pergunta: “Quem É Você?”, para depois seguir numa “Noite Quente” de deixar a “Carne Viva” – essa última com um groove tão viciante de fazer o sangue pulsar de prazer.
“Paja” é um esboço para a viagem mais profunda e bela de “La Petite Étoile”. E após um distorcido interlúdio com “Kinky”, vem a sombria e quase garageira “Modèle”.
Já partindo para o desfecho, temos as instrumentais “Caminhos do Prazer” (autoexplicativa) e “Libido Escura”, de clima mais jam, mas com a banda sabendo exatamente onde está penetrando. O fim se dá com a única chave de ouro possível, a visceral “Epifanias”; onde o ‘noise’ e o melodioso se encontram com uma maestria poucas vezes ouvida na história do rock brasileiro.
Você precisa ouvir ABC Love e o Álbum do Prazer porque eles se sobressaem no que se convencionou a ser chamado de “indie”. Na verdade, isso pode ser uma ofensa, já que foram originais ao conseguirem levar o pornô trash old school ao etéreo, criando uma atmosfera (música) simplesmente impossível de ignorar. Quem esteve “de frente para o telão” no último Balaclava Fest que o diga.
Ouça o disco completo a seguir: