O ex-Sonic Youth registrou um profundo mergulho no universo experimental através de suas seis cordas
Por Luiz Athayde
Esboçar qualquer coisa referente a artistas que possuem um vasto (e relevante) currículo pode ser uma tarefa arriscada. E se um deles for Thurston Moore, todo o cuidado é pouco para não “falar” nenhuma besteira. Não é de hoje que o fundador do seminal Sonic Youth circula pelo universo alternativo, influenciando e sendo influenciado.
Deixando sua então banda principal em definitivo em 2011, o multi-instrumentista norte-americano de Coral Gables, Flórida manteve seu ritmo experimentalista, mas nada que chegasse ao nível de esquisitice de seu mais novo álbum Spirit Counsel .
As 3 faixas são apenas um mero engano para um registro triplo de duas horas e meia gravado em diferentes estúdios (Les Ateliers Claus, Wilton Way Studios e Barbican). A primeira e mais acessível, por assim dizer, presta um tributo a três dos nomes mais influentes em sua vida pessoal e artística – Alice Coltraine, o Moki Cherry
“Alice Moki Jayne” é a mais acessível, por assim dizer. Moore presta um tributo a três das mulheres mais influentes da sua vida e carreira artística: a lenda do jazz Alice Coltrane, a artista visual sueca Moki Cherry e a poetisa Jayne Cortez, que apesar de serem artistas singulares, viveram suas vidas sob a sombra de seus maridos famosos (John Coltrane, Don Cherry e Ornette Coleman).
A segunda parte denota inclinação Post-Rock com alvo espacial. Mais distorcida, parte dos 29:20 minutos de “8 String Street” fomentam um delírio noise que iria tomar força como um propulsor em “Galaxies”, de longe um dos seus experimentos mais densos e anticomerciais de sua carreira. Nada que, por exemplo, uma das grandes falanges do Krautrock Faust não tivesse feito, mas aqui estamos diante de um artista que sempre há eras circula pelo mainstream, independente das empreitadas do qual se envereda.
De fato, não dava para esperar algo encaixotado de Thurston Moore, embora um registro desta densidade está longe de agradar de imediato fãs de seus tempos de Dirty (1992), e mesmo Experimental Jet Set, Trash and No Star (1994), especialmente por se tratar de três peças instrumentais carregadas de cores frias pintadas de maneira mais amorfa possível, e é aí que está a audácia de Moore; trazer para a classe de 2019 um conselho espiritual somente para aqueles capazes de incorporá-lo; porque para os demais pode ser apenas barulho descabido fantasiado de genialidade.
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