Sem deixar o darkwave neoclássico, Anna-Varney volta com um disco mais orientado para o Deathrock
Por Luiz Athayde
Mal passou um ano e o Sopor Aeternus & The Ensemble of Shadows soltou mais um álbum. E que álbum! Isso se o ouvinte levar em consideração que o nível mantido é basicamente o mesmo, com uma discografia regular, entre o Neoclassical Darkwave e o Gothic Rock. Mas em Death & Flamingos parece que a coisa empolga mais, devido a sonoridade um pouco mais voltada para o Deathrock.
Formado em Frankfurt, Alemanha no ano de 1989 pelo sinistro “ser” Anna-Varney Cantodea, seu primeiro álbum Ich töte mich jedesmal aufs Neue, doch ich bin unsterblich, und ich erstehe wieder auf; in einer Vision des Untergangs (algo como “Eu me mato novamente e novamente, mas eu sou imortal, e eu começo novamente; em uma visão de desgraça”) era uma espécie de Ataraxia – grupo italiano formado anos antes, que lança mão de uma sonoridade parecida – em seus dias mais rudimentares, mas ainda assim, dotada de uma pegada obscura que perduraria nos anos seguintes.
Após a introdução, “Kinder des Teufels” já chega dizendo: “tem guitarra, baixo e bateria na cara”, e como se não bastasse, na sequência temos uma faixa ainda mais direta, “Spellbound”, seguindo do segundo single do álbum, a dramática “The Boy Must Die”. Em “Mephistophilia”, basta seguir pelo corredor do teatro e se deparar com uma ópera redigida por um refinado fantasma de Doug Clark (Mighty Sphincter).
Por outro lado, as letras nunca foram tão diretas. O hipnotizante groove de “Coffin Break” é apenas um pano de fundo para o profundo ódio de Anna-Varney pela humanidade, inclusive passando longe de qualquer “causa”.
“Eu apagaria toda a vida humana
Deste e de todos os outros universos
Em qualquer dia
Eu apertaria esse botão com muita alegria …
porque eu sou homossexual”
O Sopor clássico, no sentido “típico”, aparece como forma de esboço com a “Charnel-House” e em “Theme from Death and Flamingos”, encerrando mais um ato de uma peça que às vezes te dá a impressão de que não haverá surpresas, mas que de alguma forma, cativa, seja pela tenacidade voraz de quem a interpreta, ou simplesmente por se manter relevante em um cenário extremamente fácil de se repetir.