O baterista morreu de insuficiência respiratória e broncopneumonia aos 61 anos, mas você sabe quem foi Paulo Pagni?
Por Luiz Athayde
Desta vez é oficial: P.A, baterista do grupo RPM morreu aos 61 devido a insuficiência respiratória e broncopneumonia no Hospital São Camilo, de Salto (São Paulo), onde estava internado. Diagnosticado com fibrose pulmonar, Paulo havia dado entrada na unidade com infecção pulmonar e apresentando dificuldade para respirar.
Em nota publicada no Facebook, a banda comunicou:
“Nosso querido amigo P.A resolveu definitivamente descansar de sua brava luta pela vida. Partiu hoje em decorrência do agravamento das suas condições respiratórias devido a forte pneumonia que o atingiu. Ele estava internado no Hospital São Camilo, da cidade de Salto/SP, há mais de um mês. Fomos pegos de surpresa e tomados pela tristeza quando soubemos de sua partida há pouco. Temos o compromisso doloroso, porém imprescindível, de fazer o show dessa noite. Por vários motivos e pela honra de nosso irmão, sempre apaixonado pelo seu trabalho e extremamente profissional. Estamos em Garopaba/SC, temos a responsabilidade de tocarmos e darmos nosso melhor perante uma plateia estimada em 20.000 pessoas, em respeito a eles, à Prefeitura local que nos contratou e em coerência ao nosso profissionalismo, onde poderemos prestar uma homenagem ao nosso companheiro eterno de estrada que estará com certeza sempre ao nosso lado. Conseguimos antecipar nosso retorno para SP, e isso nos deixará em condições de estarmos com ele pela última vez neste domingo pela manhã. Neste momento de dor e de uma certa fragilidade pela perda de uma pessoa tão querida e próxima, estamos buscando forças para não deixar que nada falte para honrar nosso amigo, prestando apoio de todas as formas e providenciando todos os trâmites para que ele possa ser dignamente sepultado ao lado de seus pais em Araçariguama/SP. Pedimos a todos orações e bons pensamentos para que sua passagem para outro plano seja a melhor possível.”
P.A nasceu Paulo Antônio Figueiredo, em São Paulo, no dia primeiro de junho de 1958, filho único do então fazendeiro Orestes Pagni e Dona Aparecida. Começou na bateria aos 11 anos por influência de Led Zeppelin e aos 15 já tocava na noite com sua banda Crepúsculo; com repertório próprio e covers de Black Sabbath, Deep Purple e outros.
Foi o último membro a integrar o RPM, que já na altura estava com o seu primeiro álbum quase pronto, o Revoluções Por Minuto, de 1985. Era um músico extremamente experiente, com passagem pelos EUA e com estúdio de ensaios montado, o Planeta Gullis. Sua entrada aconteceu após o tecladista Luiz Schiavon lembrar de uma jam que havia feito com Paulo – coisa que o mesmo sequer recordava – tempos antes e imediatamente o convocou para o grupo, inicialmente como membro convidado.
Ainda no mesmo ano, a banda sobe no palco e chama a atenção de ninguém menos que Ney Matogrosso, que se torna o diretor dos shows do grupo. Em 1986, a explosão nacional: lançam o Rádio Pirata Ao Vivo, contabilizando mais de 3 milhões de cópias vendidas, sendo um dos discos mais vendidos da história da indústria fonográfica do Brasil. Como o sucesso na década de 80 vinha com um “pacote”, a banda aproveitou o máximo, assim como os excessos vieram à tona.
“O RPM foi nos anos 80 muito tudo, muito dinheiro, muita mulher, muito sucesso”, disse P.A ao programa Vitrola Verde de Cesar Gavin. “A gente consumiu um monte de droga, eu principalmente muito mais que todos eles”, revelou o baterista.
O ano de 1987 marcou o declínio do grupo, que se encontrava em pleno topo. Com o fracasso do projeto do selo RPM Discos – que inclusive chegou a lançar o único álbum da banda pós-punk Cabine C no ano anterior, o ‘Fósforos de Oxford’ –, causando conflitos dentro do grupo e o uso desenfreado de álcool e drogas pesadas, a banda se separa pela primeira vez. No meio de todo o caos ainda conseguiram lançar um single em parceria com Milton Nascimento sob a alcunha RPM & Milton, o “Feito Nós”, mas que não obteve sucesso.
Após a primeira tentativa de reconciliação, voltam as atividades em 1988 e lançam o álbum mais maduro de sua carreira, o Quatro Coitotes, com boas vendas, mas sem estarem sob os numerosos holofotes de outrora. Pouco depois, o grupo entra em um longo hiato – mesmo com Paulo Ricardo lançando sua versão do RPM em 1993 apenas com o guitarrista Fernando Deluqui –, que duraria até 2002, com P.A voltando a trabalhar com seus companheiros e lançando o single “Vida Real”, obtendo óbvio sucesso por ter sido tema de abertura do programa Big Brother Brasil na Rede Globo. Após vários shows e a gravação do DVD MTV RPM 2002, o grupo novamente se separa. Sem perder tempo, P.A junta forças com Paulo Ricardo e o ex-Metrô Yann Lao e montam o P.R5. e lançam o álbum ‘Zum Zum’ em 2004, mas com fracasso de vendas.
Entre tentativas frustradas naqueles anos, em 2011 acontece um novo retorno, precedido por lançamentos como o livro “Revelações Por Minuto” de Marcelo Leite de Moraes em 2007, o box de 25 anos do RPM, contendo sua curta discografia mais um CD de raridades e, principalmente, o especial “Por Toda a Minha Vida” feito pela Rede Globo, passando um pente fino em toda a carreira da banda, com depoimentos dos próprios músicos e pessoas ligadas ao grupo. O resultado é o álbum Elektra, com influências mais eletrônicas e letras bem distantes da pegada política dos primórdios.
Um outro álbum quase foi lançado, mas por desentendimentos entre a banda e o vocalista/baixista Paulo Ricardo, Deus ex Machina foi engavetado. Na sequência, Paulo sai da banda e o restante do grupo recruta o Dioy Pallone para o posto.
Até seu problema de saúde vir à tona, P.A se encontrava ativo com a nova formação do RPM. Sua contribuição para a sonoridade da banda é inegável. Com nível técnico quase tão aflorado quanto seu feeling ao tocar bateria, Paulo Pagni era, de longe, o músico mais feliz dentro do grupo e demonstrava isso dentro e fora dos palcos. O homem se foi, mas sua obra fica. Descanse em paz, P.A.
Assista “Alvorada Voraz” ao vivo: