Uma ode ao básico de quem ajudou a inaugurar a segunda onda do rock gótico
Por Luiz Athayde
Uma das bandas mais influentes da segunda onda do rock gótico está de volta com um novo álbum de estúdio. Under The Weather figura o sétimo registro do ato britânico Rosetta Stone, carimbado pela Cleopatra Records.
Formada em Liverpool na classe de 1988, a banda tem como principal força criativa o vocalista Porl King, que por sua vez tem como matéria-prima a obra do The Sisters of Mercy.
E o mais interessante daquela safra – que também inclui nomes como Nosferatu, Die Laughing e Children on Stun – é era escancarar as influências da cria de Andrew Eldritch; no som, na voz, na estética.
No entanto, o que seriam apenas clones acabou ganhando vida própria, mesmo por um curto período. Não no caso do Rosetta Stone, graças a seus lançamentos (embora mais subterrâneos) após o hit “The Witch”, do clássico Adrenaline, de 1992.
Contudo, o sucessor de Cryptology (2020) veio ainda mais conciso: 10 faixas em menos de 40 minutos. E precisaria efeitar? É gothic rock retilíneo uniforme, na cara e, por este exato motivo, fantástico.
É como se a gente acabasse de pegar o disco novo do AC/DC, só que nas sombras.
Logo no início, a faixa-título toma as rédeas ao nos transportar para 1985, soando como um b-side (no melhor dos sentidos) do álbum First and Last and Always, do Sisters. Na verdade, a pegada inteira do disco é nessa linha; com algumas nuances aqui e ali, especialmente nas melodias.
Outro fator que te impede de respirar é a liga entre as músicas. Até porque a duração do registro pede. A viciante “We Turned Away” surge na sequência, seguida por “Words To That Affect”, que por sinal soa bem similar, porém, com um clima mais relaxante.
Em “Host”, a cortesia é o groove. O foco na batida foi tão grande que ela acabou soando como na era embrionária do TSOM. “Fear Over Nothing” chega a assustar de tão simulacro com o timbre de Eldritch. Essa realmente pode incomodar quem busca algo inovador.
“Sick And Tired” apenas segue o fluxo como uma faixa típica do estilo, enquanto “Coherence” faz uma leve aproximação com a faceta mais moderna do gênero. “Last Words” soa mais do mesmo. Entretanto, por incrível que pareça, isso é uma coisa boa.
O fim de aproxima e “All The Devils” figura a mais consistente deste novo trabalho. Já “Change” se destaca pelo jeito cativante que as linhas de baixo e teclados toma corpo para criar uma atmosfera mais sombria, etérea e melódica.
Qualquer um sabe um álbum soar inovador não garante status de clássico. Da mesma maneira que nem todo genérico está fadado a cair no esquecimento. Todavia, se há uma “barra de originalidade”, o Rosetta está facilmente mais próximo da cópia.
Ainda assim, a carga nostálgica de Under The Weather só pode te causar um efeito: buscar os pais desse estilo.
Ouça na íntegra pelo Bandcamp. Ou a seguir.