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Principe Valiente – Barricades

Banda sueca voltou mais consistente do que nunca

Por Luiz Athayde

Sempre existem bandas que a gente se pergunta por que ainda não estouraram. Tudo bem que isso não vale tanto para o dark e qualquer “wave” que se preze a flertar com a obscuridade, tendo em vista que se trata de um nicho. Mas se certa banda de Belarus anda fazendo a cabeça de muitos mundo afora, por que não também os suecos do Principe Valiente?

Principe Valiente (Foto: Jacob Frössén)

Comparações (injustas) à parte, a banda de Estocolmo recentemente soltou, via carimbo Metropolis Records, Barricades; seu quarto álbum estúdio e o mais novo em cinco anos, o que acaba sendo um hiato considerável, dada a velocidade com que as coisas acontecem. Ainda assim, o fator surpresa foi grande. E me refiro à tamanha potência de suas músicas.

Até então era difícil imaginar algo que superasse o fantástico Oceans, de 2017, mas o vocalista, baixista e líder Fernando Honorato, o guitarrista Jimmy Ottosson, a tecladista Rebecka Johansson, e o batera Joakim Janthe provaram não somente que isso é possível, como o céu é o limite. Afinal, são “apenas” pouco mais de 17 anos de estrada, mas acima de tudo, muitas outras pela frente.

O registro é um mix singular, no real sentido da palavra, de influências que são óbvias para o adicto em pós-punk, rock gótico e afins, mas traz aquele tempero shoegaze no meio, algo que eles sempre souberam mesclar com maestria.

Pegue a própria faixa-título, que inclusive abre o novo trabalho (soando como uma continuação natural ao disco anterior), com sua aura gélida e quase ethereal wave. Ou, para jogar por terra tudo o que foi mencionado acima, “So Much More”; uma espécie de rascunho do que seria se Chris Isaak flertasse com o dark. Aliás, falando nisso, “Porcelain”, o single escolhido para antecipar o lançamento do full, vem logo na sequência trazendo doses cavalares de densidade.

“I Am You” vai de darkwave, calhando perfeitamente em um set movido a Siouxsie and the Banshees e Second Still. “Tears in Different Colors” é, digamos, a parcela synthwave do play, mas nem assim deixa de ser sombria; cortesia da pegada Peter Murphy de Honorato. Bela construção melódica e refrão do jeito que o pop dos anos 80 gostava de ser.

A seguir, mais uma ‘western’, mas você também pode citar The Sisters of Mercy como uma pequena referência. Sim, pequena. “When We Can’t Let Go” passa longe de Leeds, por soar mais melodiosa e progressiva, com pouca ou nenhuma preocupação de alcançar uma dial popular.

Para quem não achou nada gótico até aqui, é melhor rever os conceitos ao conferir “Never Change”. Por outro lado “The Beating of Your Heart” parece levar o ouvinte direto aos esfumaçados e alternativos anos 90, quando o Reino Unido explodia com nomes que hoje continuam sendo reverenciados, ainda que se trate de uma balada.


Em “The Impossibles” David Bowie faz um leve aceno direcionado aos primeiros discos de (Peter) Murphy, enquanto “This Buried Love” segue a mesma via apontada pelo The Comsat Angels, quando os mesmos resolviam lançar mão de um rock mais duro, sincopado e dramático.

Após uma experiência auditiva em 10 capítulos, ou melhor, faixas, resta dizer que para alcançarem maiores patamares, falta somente um meme no tik tok, como ocorreu com o Molchat Doma. Mas, até aqui, não dá para reclamar: são 4 discos bem cheios, (alguns ) singles de consistência ímpar e até mesmo assinatura em trilha sonora de filme. Além de inúmeras gigs nas costas.

Grande álbum e digno de um dos melhores de 2022 – para qualquer pessoa de bom senso no universo musical.

Ouça Barricades no Bandcamp, ou abaixo pelo Spotify.

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