Trio de Vitória editou seu trabalho de estreia em meio a pandemia
Por Luiz Athayde
Ao visualizar a capa deste pequeno cassete virtual, logo pensei: que legal, isso está com cara de pós-punk, ou alguma ex-banda de hardcore que está tentando novos caminhos.
Bom, mezzo engano; a arte assinada por Chris Justtino detona apenas uma extensão da minúscula demo do Noite Aperto, banda formada por Vitor Lima (vocais), Bia Bia (guitarra) e Fernando Nadolfo (bateria), conhecidos por movimentarem o circuito local à frente do coletivo Matilha Punx.
A Demo 2020 conta com 6 faixas, descritas como “punk-post doideira com reverb”, um disfarce irreverente para a sonoridade extremamente rudimentar nos quase seis minutos (isso mesmo, seis) de registro, envoltos a raiva do punk, o sentimento de derrota do pós e devaneios alucinados, esboçados por uma quase psicodelia vocal.
Ainda assim, a banda pegou emprestado alguns versos, como a grudenta “seja punk, mas não seja burro”, em “Punk Rock Não Está à Venda”, extraída de “Tom & Jerry”, dos Replicantes; e “nada existe a não ser o agora”, em “O Poder do Agora”, tirada de “Nostalgia”, do Libertinagem.
Faixas, como “Atentado aos Mecanismos do Sistema”, “Fomos Domesticados” e “Escravizados” são onde a veia punk se encontra mais latente, com letras mais em tom de desabafo do que, necessariamente, militância, e é aí que está o atrativo subliminar do grupo.
Não à toa “Sutilmente Forçado a Dançar” relata uma situação extremamente corriqueira quando o assunto é socialização no rock, balada – use o termo adequado para sua região –, indo até mais fundo na simples questão visual/atitude: “O que sentir?”
Em suma, o registro de estreia do Noite Aperto configura três etapas: risos, reflexão e repetição – quando menos se espera, alguma faixa já está no replay.
Ouça a Demo 2020 no Bandcamp.