O universo shoegazer virou de cabeça para baixo com o segundo álbum dos irlandeses
Por Luiz Athayde
O ano de 1991 não foi brincadeira no que diz respeito a lançamentos discográficos. É bem verdade que os holofotes estavam voltados para Nevermind, do Nirvana, e tantos outros que não paravam de sair.
Em paralelo, o Reino Unido regozijava de sua efervescente cena alternativa, que iam das falanges mais barulhentas às mais pop. E o My Bloody Valentine, já contando com bons anos de microfonia, contribuiu com um condimento shoegaze/dreampop ao enorme caldeirão: Loveless.
O álbum foi praticamente um parto. Servindo-se da então tutela do visionário e poderoso chefão da Creation Records Alan McGee, o guitarrista e vocalista Kevin Shields, mais Bilinda Butcher (guitarras), Debbie Googe (baixo) e Colm O’ Ciosoig (bateria) trocaram de estúdios mais do que de roupa até chegar no resultado final; cortesia do gênio de Shields.
Em em entrevista para a Select, Shields não escondeu a procrastinação envolvida no processo criativo do álbum.
“Gravamos a bateria em setembro de 89. A guitarra foi gravada em dezembro. O baixo foi gravado em abril. Agora estamos em 1990. Então nada aconteceu por um ano, na verdade. Então não há vocais nesse estágio? Não. Tem letra? Não. Tem sequer um título? Não. Tem um número de música. Chamava-se “Song 12”. E … Estou tentando me lembrar… a linha da melodia foi feita em 1991. Os vocais eram de 91. Mas houve grandes intervalos. Meses e meses sem tocar nas músicas. Anos. Eu costumava esquecer as afinações que usava.”
Mesmo quando o álbum saiu, o primeiro single e vídeo só viu a luz do dia no ano seguinte – embora seja até usual. Em compensação, a crítica rasgou a banda em elogios.
Inclusive a mesma Select resenhou: “Sua inspiração criativa desafia a crença. Embora ‘To Here Knows When’ seja a faixa mais estranha das onze, essa distorção gloriosa dá um sinal razoável do que esperar – o inesperado. Tudo o que você ouve confunde sua ideia de como uma música pop deve ser tocada, arranjada e produzida.”
O New Musical Express não fez diferente: “Com o Loveless, você poderia esperar que a parceria irlandesa/inglesa sucumbisse à auto-paródia ou imitasse a cena que gosta de comer quiche, mas não, Loveless dispara uma bala de prata no futuro, ousando tudo que chegamos a tentar recriar em sua mistura de humores, sentimentos, emoções, estilos e, sim, inovações” .
Nas paradas, posições variadas, como: número 154 na Bélgica, 29 em casa (Irlanda), e 18 no Japão e 7º lugar na Coreia do Sul; disco de prata no Reino Unido por suas 60.000 cópias vendidas.
Lançamento em boa parte do globo em CD, Cassete e LP. Das reedições, destaque para o Blu-spec CD japonês duplo – formato em uma qualidade superior ao CD.
Ainda:
+ Rumores fortes apontam Kevin Shields e cia pela falência da Creation Records de Alan McGee. Segundo McGee, a banda criava uma série de dificuldades, incluindo até mesmo a promoção do álbum, obrigando ele a despedi-los da gravadora.
+ Apesar de ter gostado de Loveless, no documentário Beautiful Noise, de 2014, McGee disse sobre o álbum: “as pessoas estavam falando sobre isso como se fosse a sétima ou oitava sinfonia de Beethoven. Não. É um cara que não consegue terminar um disco que levou três anos … Loveless é superestimado pra caralho”.