Notável fã de Nick Cave, o polonês Adam Darski se mostra ainda mais solto
Por Luiz Athayde
Desde que o compositor e guitarrista polonês, Adam Darski, também conhecido como Nergal, da brigada metálica, Behemoth, revelou seu projeto solo Me and That Man, pouco se falou nos veículos especializados, ao menos se compararmos com os dias de hoje.
Antes mesmo se ser lançado, New Man, New Songs, Same Shit, Vol. 1 já vinha gerando expectativa, dada a enorme quantidade de participações (algumas mais que) especiais que envolveram o registro.
Logo de cara, o single “Run with the Devil” apareceu contando com canja do cantor e multi-instrumentista e figuraça norueguês, Jørgen Munkeby, do Shining, trazendo uma pegada cinematográfica, orientada pelos velhos blues dançantes de filmes dos anos 60 e 70; não à toa ganhou videoclipe hilário, documentando uma noitada regada a substâncias aditivas.
Ainda nas participações norueguesas, Sivert Høyem, da banda Madrugada copia sem medo o jeito de Nick Cave de cantar, em “Coming Home”, inclusive parecendo um dos bons momentos do compositor australiano com suas sementes más.
Quem faz as honras em “Burning Churches” é o inglês Mat McNerney, também conhecido como Kvohst (Dødheimsgard, Hexvessel), também adentrando no universo de águas sujas de gimbas de cigarro na beira do bar e vidros quebrados após alguma eventual briga.
Na sequência vem outro single que repercutiu bem. “By the River” conta com os vocais de Ihsahn (Emperor), fazendo um trabalho bombástico em sua interpretação, se revelando também como um cantor versátil.
“Męstwo” é a única canção na língua natal de Darski, e por sinal, um dos picos no gráfico sônico do álbum. Embora pareça um lamento, é a faixa mais “solta” do registro, livre de cópias projetadas de suas influências mais notáveis.
Voltando as participações, a parceria Dead Soul/Rob Caggiano (ex-Anthrax, atual Volbeat) rendeu “Surrender”, que nos remete imediatamente às nuances blueseiras praticadas pelo Depeche Mode no álbuns pós-Alan Wilder. Curiosamente, é a das que menos empolgam…
Ao contrário da western “Deep Down South”, chancelado pelo casal Johanna Sadonis e Nicke Anderson (Entombed, The Hellacopters, Death Breath), embora os outros instrumentos usados nesta música, como banjo e violino, também estão longe de soarem coadjuvantes.
“Man of the Cross” não é folk ao acaso; Jérôme Reuter é a mente mestre por trás do ato Neofolk/Industrial, Rome, de Luxemburgo, e é exatamente esse approach que ele trouxe para a trilha de uma crucificação nas montanhas.
De mote acústico, “You Will Be Mine” é cantada por Matt Heafy, do Trivium. Logo em seguida Rob Caggiano reaparece juntamente com Corey Taylor e Brent Hinds, fechando a trinca pesada a radiofônica “How Come”.
Assim como começou, o álbum encerra com o Shining. Dessa vez, do sueco Niklas Kvarforth. “Confession” nada mais é que o suicida de sempre, preparado para estourar a cabeça, como em sua banda principal. Rola até uns blast beats como pano de fundo para a despedida – Suicidal Black Metal Blues, ou algo assim.
Notável (para não dizer: fanático mesmo) fã de Nick Cave and the Bad Seeds, Adam Darski é, de fato, um homem novo, com músicas novas, com a mesma merda, mas somente para quem está calejado de revisitar a obra de Cave, Leonard Cohen e afins.
Em suma New Man, New Songs, Same Shit, Vol. 1 acaba sendo o disco perfeito para quem deseja se libertar das amarras dogmáticas do metal e adentrar em um terreno mais denso, lírico e esfumaçado, como os artistas responsáveis por moldar – no quesito influência – o trabalho deste workaholic polonês.
Ouça New Man, New Songs, Same Shit, Vol. 1 no Spotify.