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Marcelo Bonfá – Improvável Certeza

Legionário das baquetas voltou mais inspirado do que nunca na pandêmica classe de 2021

Por Luiz Athayde

Nada como o casamento entre experiência e inspiração. No caso de Marcelo Bonfá, baterista da banda Legião Urbana, isso se mostrou latente e, talvez, como nunca. Prova disso é o seu álbum Improvável Certeza, que acabou de sair nas plataformas digitais.

Marcelo Bonfá (Foto: Divulgação)

O sucessor do EP Outubro, de 2020 é como uma extensão natural, já que foi gerado na pandemia, e essa é a parte intuitiva; nada surpreendente de quem, juntamente com Dado Villa-Lobos e o saudoso Renato Russo, lançou registros clássicos como Legião Urbana (1985), Dois (1986) e As Quatro Estações (1989); assim, só para citar alguns.

Quanto ao lado “velho de guerra”, o músico lançou mão dos tempos áureos de banda, como revelou (via Popline): “O que me instiga a compor são os timbres e as sonoridades”, conta. “Eu sempre compus assim. Dali, eu extraio uma melodia e, inclusive, sempre fizemos dessa forma na Legião Urbana. Sempre criamos a música antes da letra.”

Seu novo registro apresenta o formato clássico de discos de carreira: 10 faixas em poucos mais de 30 minutos. E precisa mais? Depende. Dado o poderio das músicas, merecia mais 15, 30 minutos. Por outro lado, é esse o ingrediente para o vício do replay.

O que parece certo exagero cai por terra logo na faixa-título, também denotando sombras do fantástico (mas nada unânime) A Tempestade (disco da Legião), de 1996. Esse também foi o cartão de visitas antes de seu lançamento. Na sequência vem a bela “Cenários”, de longe, um dos pontos altos e, não à toa, escolhida para videoclipe. A mesma traz a participação de seu filho João Pedro, que também deu um toque especial nas composições de Bonfá.

“O Que Te Faz Sofrer” soa rock com abordagem eletrônica, mas com aquele ar dreampop. E o que passar disso é apenas uma mera tentativa de enquadrar no que já nasceu pronto para viagem – sensorial. Se há um túnel do tempo por aqui, esse se chama “Volte pra Você”; balada com clima de trilha de novela das 7 de 1997.

Mais sons eletrônicos, agora com um certo tempero britpop. Blur a 20 por hora ou o resultado de um momento relax em seu sítio em Santo Antônio do Rio Grande (MG)? É a sensação que passa ao ouvirmos “A Vida Que Eu Levo”.

O lado B do disco vem de krautrock/space rock, ao menos na intro e nos caminhos que guiam a voz do baterista para o tom pop, na viajante “Darma”. Vale ressaltar que a trip é ainda mais intensa se acompanhada de bons fones de ouvido. Já “Eclipse” soa mais moderna, quase um U2 dos tempos atuais, mas sem a obrigação de virar hit.


Ok, mas e Legião? Tente “Meninas e Meninos” e sua aura mezzo “Aloha” mezzo “Vamos Fazer um Filme”. Aliás, os fãs dos teclados do lendário grupo agradecem. Se preparando para o desfecho, “Avatar” surge como um flerte com Gary Numan ao brincar com seu próprio nome, que se tornou maior do que a pessoa física.

A instrumental e eletrônica “Antes do Amanhecer” encerra de um jeito futurista e cinemático, no melhor esquema sci-fi dos anos 80, mas sobretudo deixando aquele gosto auditivo de quero mais. E é disso que Improvável Certeza se trata; um disco climático de rock por vias synth/pop feito por quem não precisa provar mais nada para ninguém, a não ser para si mesmo, na arte de se superar no âmbito criativo. Mas, cá entre nós, essa ‘incerteza’ é que está tendo de melhor na praça. Discaço.

Ouça o álbum completo abaixo.

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