Australianos surpreenderam com um álbum com quase Thrash
Por Luiz Athayde
Quem é fã desta nova e prolifera falange australiana – 15 discos em 7 anos é, definitivamente, para poucos – já sabe que não adianta esperar uma continuação do que fizeram anteriormente, porque virão com algo totalmente diferente, ao menos dentro de sua esfera. Já os marinheiros de primeira viagem podem tomar tapas bem dados dependendo do álbum que escolher. E tem para todos os gostos: garage rock, psicodelia, jazz, fusion, nuances acústicas, stoner e… Thrash Metal (?).
Bom, é o que eles tentaram fazer – de forma bem descompromissada, como parece ser a máxima do grupo; música pela música – no mais recente álbum Infest The Rats’ Nest, lançado pelo próprio carimbo da banda Frightless Records. Dizer que o mesmo é um álbum inteiramente Thrash como foi dito por aí, é um exagero óbvio, especialmente para quem é fã desse subgênero tão definido do heavy metal.
Mas, de fato, as influências estão ali. O que era uma brincadeira durante os ensaios foi tomando forma até “infestar” um disco cheio. “Planet B” já começa com uma raiva nunca vista, ou melhor, sentida nas guitarras de Stu Mackenzie, que também toca flauta em outros registros. “Mars For The Rich” pega as estradas mais bem pavimentadas dos EUA em um belo mix de Motörhead (“No Class” acena de longe), Black Sabbath e um podre cano de descarga de um carro ansioso para aposentar a lataria.
A terceira, “Organ Farmer”, chega no melhor estilo Suicidal Tendencies, como se fosse feito por um bando de adolescentes famintos por qualquer barulho, inclusive nas mudanças de passagens, que empolgariam ainda mais se não fossem os timbres usados no curto álbum. Se por um lado a sujeira é um dos grandes charmes da banda, por outro, a potência dessa faixa iria se aflorar facilmente se tocada com alguma Jackson da vida.
Hora de pisar nos freios com “Superbug”. Mais cadenciada, pesada e quase hipnótica; qualquer conexão com os velhos dias de nomes como Sleep e Bongzilla podem ser mera coincidência, assim como em “Venusian 1”, lembrando inevitavelmente as bandas sludge do sul dos EUA quando resolvem atacar com andamentos mais rápidos. Quase Thrash. Já ao engatar “Perihelion” o heavy metal toma conta; bem-vindos à família Sabbath; seus filhos Pentagram e Witchfinder General lhes esperam na sala.
“Venusian 2” presta mais um tributo à banda do saudoso Lemmy Kilmister, em mais uma pegada estradeira, usando e abusando de solos na reta final da canção. Em uma cachorrada sem precedentes, no melhor dos sentidos, “Self-Immolate” é a leitura Aussie para a Bay Area de São Francisco; está tudo ali. E no que diz respeito a magnitude, Melbourne não perde em nada para a cidade norte-americana.
Com uma pegada ainda mais ‘Slayeriana’ que a anterior, “Hell” fecha o álbum “Thrash” dos australianos, que só denota, embora não seja nenhuma novidade, o domínio da rapaziada por qualquer gênero musical.
O King Gizzard & The Lizard Wizard é daqueles grupos agraciados por contar apenas com o estado de espírito para compor e ainda serem bem sucedidos, tanto que lançam discos na mesma proporção que ingerem água – ou outras substâncias. Aliás, a essa altura, eles já devem estar preparando um novo álbum, ou, como gostam de fazer, compõem atrás das cortinas e já soltam para o público.
Mais um número para a conta da banda, mais um belo disco para a agitada classe de 2019.
Ouça Infest The Rats’ Nest: