Era um dos discos realmente alternativos que faltava para a classe de 2019
Por Luiz Athayde
No vasto currículo desta artista visual que ganhou fama no aclamadíssimo Sonic Youth, faltava aquele disco com assinatura própria, sem terceiros.
Sessenta e seis anos completados em abril e registros artísticos a perder de vista – livro, performances, filmes e, principalmente, discos –, Kim Gordon chega à classe de 2019 com No Home Record.
Lançado via carimbo Matador Records, que também lançou discos de sua ex-banda, o disco foi solto em conta-gotas, como tem mandado o atual script do mercado musical.
A mega bizarra (ou, nada fora de seus padrões) “Sketch Artist” já denotava que Gordon não viria com um álbum mastigado até as últimas para o consumidor final. E isso foi, subliminarmente ou não, mostrado no seu vídeo, com pessoas desfalecendo logo após terem um breve contato visual com ela.
“Air BnB” aparece na sequência, nos levando de volta às seringas usadas nos anos 1990. Em um mero teaser de pouco mais de 1:30 em vídeo, “Paprika Pony” (uma das mais sensacionais, diga-se) vinha com seu minimalismo nada novo, mas extremamente honesto, como era de se esperar de Gordon.
O groove surge com “Murder Out”, minha aposta pessoal para figurar setlists de seus futuros shows. Ela experimenta graves loops como se tivesse em um esgoto de uma avenida central de lá, claro. “Don’t Play It” figura a mais pesada do disco, e também uma das mais certeiras.
Por algum motivo que sabe-se lá de onde veio, a intrigante e descompassada “Cookie Butter” lembrou “Silvester Anfang”, intro do sujo, podre, mal tocado e igualmente clássico Deathcrush, registro de estreia dos noruegueses ex-queimadores de igreja Mayhem.
No entanto, nada que se leve a sério, já que esse tipo de conexão acontece; felizmente até. Imagine Kim Gordon ouvindo “Necrolust” ou mesmo “(Weird) Manheim”. Sinceramente? Tudo é possível.
“Hungry Baby” foi outra música que a ex-Sonic Youth soltou antes do lançamento de seu álbum. Sua principal característica é a pegada reta, sem muitas frescuras. “Earthquake” quase assusta nos primeiros 15 segundos como se fosse entrar “The End”, do The Door. Porém, o que se segue é um canto de uma pessoa amargurada, prestes a tremer com um terremoto. Ponto alto, fácil.
Em clima de despedida “Get Yr Life Back” adentra em camadas que outrora fizeram (e fazem) a cabeça de nomes como Massive Attack e Aphex Twin, mas ainda distante da nostalgia.
Na verdade, é isso que faz de No Home Record o disco que faltava para prolífera classe de 2019. Não apenas pelo nome. Mas por, como sempre, honestamente transcender o status quo sônico em prol de algo genuíno. Seu primeiro álbum desde a dissolução do Sonic Youth não poderia ser melhor.
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