Falange de Salford entraria para a história envolto a melancolia das letras e a energia do som
Por Luiz Athayde
E vamos para mais um ano do lançamento de um dos álbuns que mudaram a história da esfera musical conhecida como Post-Punk. Neste dia, lá na longínqua classe de 79, a banda inglesa Joy Division estreava, via Factory Records, com Unknown Pleasures.
Filmes, documentários e entrevistas mil já dissecaram a história do grupo nativo de Salford, Grande Manchester, mas nunca é demais endossar pontos importantes no período que envolveu desde seu processo criativo até o lançamento.
Gravado no Strawberry Studios, em Stockport, a produção contou com o figuraça Martin Hannett, que até então possuía nomes locais em seu currículo, como The Durutti Column e o ás do spoken word, John Cooper Clarke.
A influência de Hannett no registro dos ingleses teve a ver com sua birra com o conservadorismo do punk, no que diz respeito à repulsa por tecnologias de estúdio para ampliar a sonoridade. Como o Warsaw (nome anterior do Joy Division) vinha desse mesmo background, seria natural que Ian Curtis (vocais), Bernard Sumner (guitarra), Peter Hook (baixo) e Stephen Morris (bateria) seguissem o estilo de outrora.
No entanto, Hannett usou e abusou de sons de garrafas quebrando, batatas fritas, ruídos de guitarras e até de um banheiro localizado no porão.
Nos vocais de Curtis em “Insight”, foi usada uma linha de telefone para que ele pudesse alcançar uma “distância necessária”, como explicou o produtor mais tarde: “[Joy Division] foi um presente, porque eles não tinham ideia de nada. Eles não discutiam”.
Ainda sobre as sessões, Hook comentou: “Sumner começou a usar um sintetizador Powertran Transcendent 2000, especialmente em ‘I Remember Nothing’, onde disputava com o som de Rob Gretton [empresário] quebrando garrafas com Steve e sua réplica da pistola Walther.”
Peter Saville – colaborador até os dias de hoje dos membros remanescentes – foi o escolhido para compor a capa extraída de ondas de rádio do pulsar CP 1919, da Enciclopédia de Astronomia de Cambridge, do qual comentou: “Eu estava com medo de parecer um pouco barato. Estava convencido de que era apenas mais sexy de preto, pois representava um sinal do espaço.”
Hoje, Unknown Pleasures conta com um status de disco essencial para 9 entre 10 artistas alternativos, mas será que na época foi assim? Das críticas mais curiosas, vale ressaltar veículos, como a Melody Maker, que descreveu o álbum de estreia do Joy Division como um “manifesto opaco”, e musicalmente como “Gary Glitter conhece Velvet Underground”.
A New Music Express foi mais generosa, ao qualifica-lo como “extraordinário sem tentar confundir ou exagerar”. Na mesma via a Rolling Stone teceu elogios dizendo que se tratava de “um som melancólico e profundo que muitas vezes poderia sugerir uma versão elaborada do Velvet Underground ou de um organizado Public Image Ltd.”
Apenas dois singles foram extraídos do disco: “Day of the Lords / Wilderness” e o póstumo “She’s Lost Control / Atmosphere”, ambos pela Factory.
No âmbito dos licenciamentos, Unknown Pleasures foi editado em LP somente no Reino Unido e nos Estados Unidos, em seu ano de lançamento. Sua prensagem inicial foi 10.000 cópias, com 5.000 sendo vendidas logo nas duas primeiras semanas e mais 10.000 cópias nos seis meses seguintes.
Ainda assim, o início das vendas foi lento. O single que deu um gás foi “Transmission”, que não constava no álbum, mas veio das mesmas sessões. Até então, as cópias não vendidas ocuparam o escritório da Factory Records, no apartamento do co-fundador do selo, Alan Erasmus.
Posteriormente, claro, vieram reedições, inclusive remasterizadas em CD e LP, chanceladas pela London Records (2000), Rhino (2007) e pela própria Factory (2015).